Histórias que gosto de contar – Ladrão de bicicleta
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE, 25 de julho de 2023
Três crianças, 10, 12 e 13 anos, preparavam-se para brincar na praça perto de onde moravam. Era sábado e estavam ávidos para mais uma aventura. A alegria sempre contagiante, como acontecia em todas as saídas para explorarem o entorno da residência. Crianças sadias, educadas e estudiosas. Nos sábados sempre recebiam dos pais, pelo comportamento durante a semana, o direito de andarem de bicicleta sem extrapolar os limites impostos pelos seus genitores.
Às 9 horas daquela manhã, desceram do sexto andar e foram até à garagem do prédio, apanhar suas respectivas bikes. Cada um levava um pedaço de pano, para tirar a poeira de seu veículo de duas rodas, ganhados no último Natal. Sempre as deixavam bem reluzentes. Limpavam os pneus e os aros, não ficava um grão agarrado naquela preciosidade. Dava gosto ver o cuidado dedicados por cada um, às suas bicicletas, que tinham até nomes: magrinha, cujo dono era o de menor idade. Sua cor era azul, com duas faixas pretas no quadro, o selim preto e acolchoado. A da menina de 12 anos tinha o nome de graciosa, recorria sempre ao irmão para fazer a limpeza da rosinha. Tinha uma faixa preta no quadro e alguns fitilhos de diferentes cores, pendurados em ambos os guidons. Quando corria um pouco mais, parecia que eles voavam e aumentava a velocidade da bike. A terceira bicicleta, a maior delas, era da garota de maior idade. Era simples e sem enfeite, não tinha um nome específico, era apenas a sua bike. O irmão também ajudava na limpeza do veículo da irmã mais velha. Ele gostava de realizar aquele serviço.
Depois de toda essa preparação, solicitaram ao porteiro do prédio que abrisse o portão da garagem. O gentil senhor atendeu ao pedido das três crianças, e ajudou o menor a subir a rampa que dava acesso à calçada. Depois retornou para assumir ser lugar na portaria. Sabia que as crianças seguiam rigorosamente as instruções dos pais. No final da calçada, para atravessar para a praça, havia um semáforo, que apontara o momento exato para a travessia deles. Às 11 horas o pai desceria para informar-lhes que estava na hora de retornarem. Era assim o procedimento de todas as manhãs de sábado, salvo raríssimas exceções.
Já na calçada a engrenagem dentada, conhecida por corrente, deslocou-se da bicicleta do menor. Naquele momento passava um rapaz, de mais ou menos 18 anos, parou para ajudá-los. Não havia nada demais, aceitar aquela ajuda. O moço foi paciente, conseguiu repor a corrente em seu devido lugar e se apresentou para ajudá-los também a ir até a praça. Os quatros foram conversando e rapidamente lá chegaram. A primeira a sair pedalando foi a do meio. Logo adiante desequilibrou-se e caiu. O desconhecido correu para ajudá-la, com vergonha ela não aceitou. Ele, então, disse-lhe para se sentar na garupa da bike, que ele a levaria até aonde estavam os dois irmãos. Ela aceitou, sua perna estava doendo um pouco.
Em seguida, o rapaz saiu pedalando no sentido contrário aos seus irmãos. Ele fez que não ouvira, a menina começou a chorar, pedindo para que parasse. Apressando as pedaladas os dois se distanciavam mais ainda. Aos que passavam e reclamavam, ele respondia dizendo que era sua filha.
─ Eu não sou filha dele! – gritou a menina, já desesperada.
─ Ela está com raiva porque a estou levando para casa, por ter brigado com a amiguinha.
O homem aumentou mais uma vez a velocidade do veículo, e quando estava chegando ao final da praça, a garota, com todo o risco, pulou da garupa, e foi ao chão, tendo se machucado bastante. Só nessa hora, algumas pessoas que estavam sentadas nos bancos da praça perceberam o que estava acontecendo com a garota. Procuram aquele que se dizia ser o pai dela, que já havia sumido, levando a bicicleta da garota.
Percebendo que sua irmã não retornara ao início da praça, a criança mais velha chamou o irmão mais novo para procurá-la, indo encontrá-la sentada em um banco, com algumas pessoas ao seu redor. Depois das perguntas de praxe, a garota de maior idade percebeu uma colega entre os curiosos. Solicitou que tomasse conta do irmão menor e das bicicletas, enquanto iria chamar o pai.
Ao saber do ocorrido, mais que depressa ele foi até a praça, procurar a filha, encontrando-a no mesmo lugar apontado pela irmã. Fez o sinal da cruz, ao perceber que tudo estava bem com ela. A garota abraçou-se ao pai e chorando tentou dizer que não tinha sido culpa dela. Que aquele homem mau só queria a bicicleta. O pai respondeu
─ “Graças a Deus”, minha querida, você vai ficar bem!
No que ela respondeu:
─ Só em ver você aqui papai, já estou boa. Obrigado por ter vindo logo!