CONTO: AS PALAVRAS ENCANTADAS
Adriana Ribeiro
Aline era uma jovem da classe média que nascera no interior e por causa da faculdade de Letras Português, fora morava na capital havia pouco mais de um ano.
Longe da família começou a passar dificuldades e estava vivendo um período difícil em sua vida. Longe de casa, do carinho dos pais e dos amigos de infância e adolescência, ela sentia-se perdida e sufocada pelas preocupações e emoções negativas que a assombravam por conta da vida de adulta que fora obrigada a assumir.
Contudo, Aline buscava uma forma de cura emocional e equilíbrio para o seu espírito e, um dia, ficou sabendo da existência de um Grupo de Terapia Ocupacional, (GTO) liderado por uma psicóloga inspiradora chamada Eleonor Viana, do Departamento de Medicina.
Descobriu que o GTO funcionava às sextas-feiras no turno noturno dentro do próprio Campus Universitário e decidiu visitá-lo. Com o número da sala na cabeça não foi difícil encontrar o local onde grupo se reunia. Ao chegar ao espaço percebeu que era bem aconchegante, com várias estantes cheias de livros e alguns poemas famosos emoldurados enfeitando as paredes.
Ficou imediatamente encantada com o ambiente e ao se aproximar das pessoas sentadas em um grande semicírculo de cadeiras acolchoadas percebeu que se calavam por causa da sua chegada.
Assim que a viu, uma mulher de meia idade vestida com roupas bem coloridas levantou-se da cadeira - que ficava isolada entre uma ponta e outra do semicírculo - e aproximou-se de Aline com um sorriso amistoso e um olhar interessado.
Ao saber do interesse da jovem em fazer parte das reuniões deu-lhe as boas-vindas como a mais nova integrante do grupo e em seguida apresentou-a aos demais membros presentes. Todos os olhares agora estavam voltados para ela, mas, estranhamente, aquilo não a incomodava. Parecia que já os conhecia há muito tempo.
Quando retomaram as discussões Aline percebeu que compartilhavam reflexões sobre o poema Vida e tempo de VIVIANE MOSÉ. Aos poucos foi se conectando com as palavras ali proferidas, ora do poema lido ora sobre as várias possibilidades de interpretação e, de repente, descobriu-se afeita à poesia.
Naquele primeiro encontro do GTO, Aline hesitou em se abrir. Se sentia tímida diante dos outros participantes. Mas Eleonor, com sua voz suave e acolhedora, encorajou Aline a expressar suas emoções por meio da poesia. Orientou-lhe a escolher uma obra cuja mensagem ela gostasse e a partir dela escrever algumas linhas para compartilhar com o grupo no encontro seguinte.
E foi assim que Aline começou a escrever. Ainda com muita timidez nas primeiras semanas, mas passado um tempo as palavras fluíam de sua mente e do seu coração, transformando a sua solidão e ansiedade em versos delicados. Era incrível como, à medida que compartilhava seus poemas no grupo, ela se sentia cada vez mais aceita e acolhida e já não se via mais tão sozinha em suas lutas.
As palavras ouvidas ecoavam em seu coração, assim como as suas nos dos outros participantes, criando uma teia de compreensão e empatia mútua. Aquela terapia poética se tornou um refúgio para Aline. Ela mergulhava na poesia, explorando sua própria essência e buscando respostas para suas perguntas mais profundas.
Através dos versos, Aline encontrou uma voz para suas emoções, uma voz que transcendia as limitações da linguagem comum e, com o tempo, começou a perceber mudanças dentro de si mesma. A poesia a ajudava a entender suas emoções, a lidar com suas feridas e a encontrar um senso renovado de esperança. Os versos se tornaram suas armas contra a solidão, sua bússola na jornada de autodescoberta.
Aline também descobriu a beleza da conexão humana através da Literatura. Ela se viu envolvida em conversas filosóficas profundas com os outros membros do grupo, compartilhando suas experiências e encontrando apoio mútuo. A escrita literária os unia, transcendo as barreiras e diferenças, conectando-os em um nível mais profundo.
À medida que o tempo passava, Aline florescia como uma poeta e, ao mesmo tempo, como uma pessoa centrada. Ela aprendeu que a poesia não apenas oferece alívio e cura individual, mas também fortalece os laços de amizade e parceria em uma comunidade. Juntos, eles criaram uma verdadeira tertúlia psicológica, onde todos encontravam refúgio e compreensão.
E assim, a poesia se tornou o fio condutor de cura e transformação na vida de Aline. Ela continuou escrevendo, compartilhando e espalhando as palavras encantadas que um dia a salvaram. E em cada verso, explorava a magia da terapia poética, que iluminava a sua alma e ao seu redor.