A Família de João Batista
João Batista viu a sua vida se transformar em apenas três meses jamais poderia acreditar.
Morava com sua família de favor em um sítio completamente sem recursos e longe de tudo, a terra era muito árida, não produzia nada. Ali até o capim estava secando. O poço não tinha água. Sua mãe vendo a despensa vazia e tudo que havia plantado morrer, agarrou as poucas coisas que tinha e decidiu ir embora. O pai ainda retrucou dizendo que as coisas iriam melhorar, mas não tinha como sustentar mais esta ilusão. Em toda vida morando na roça eles jamais haviam enfrentado situação tão difícil, até os animais do terreiro foram todos sacrificados para servir de alimento. Quando viu suas crianças arrancando as frutas verdes do pé na hora do almoço para comer viu que já tinha passado e muito da hora de ir embora. O pai de João Batista, mesmo teimoso e turrão, não pode fazer nada a respeito, como sempre sua esposa estava certa, ele mesmo já não sabia como arrancar alimento daquela terra. Fora enganado pelo dono do sítio que, dando uma de Pero Vaz Caminha Meteu a louca de dizer que ali se plantando, tudo dá.
Mora agora numa cidade grande depois de passar sua vida inteira no campo. Conheceu a mulher mais linda que já viu na vida e com ela se casou e estão esperando um filho. Trabalha em uma loja conceituada no Centro e voltou a estudar: está na escola técnica e, quem sabe logo, poderá fazer uma faculdade. Casando-se, descobriu-se fazendo parte de uma família respeitada por todos e principalmente: proprietária de casa própria. Isso mesmo. João Batista e sua família nunca tiveram a felicidade de ser estável. A moradia da família sempre esteve atrelada ao emprego do pai.
Seu pai sempre foi trabalhador rural, mas nunca teve a própria terra. Sempre saltando de um sitio para o outro, de uma fazenda, de uma chácara. Era caseiro, agricultor, capataz, vaqueiro, ajudante geral. De tudo que precisassem e a oferta de trabalho que houvesse. Porém, sempre que passava a colheita, sempre que a terra secasse, sempre que se enfezasse com alguma coisa: lá estavam eles na rua. Vida muito triste a de sem-terra.
E, quando João Batista, sem maldade, viu-se casando com Joana e sabendo que ela tinha uma casa própria, o coração do pobre rapaz se encheu de alegria. Sua família: mulher e filhos, jamais iria ter que dormir ao relento assim como aconteceu com a sua família por diversas vezes. Antes mesmo de chegarem ali no Morro de Santa Cruz passaram por isso: andando a pé na beira da pista, sem dinheiro pra passagem ou alimento. Paravam nos postos de gasolina e nos comércios se oferecendo pra qualquer tipo de serviço que pagasse o mínimo que fosse, precisavam comer e continuar a viagem. Tiveram até sorte: estiveram nas estradas durante um período de estiagem. Não sabe se sobreviveriam, na condição em que estavam, como andarilhos, se chovesse.
Chegando na Baixada, sujos e exaustos. Caminhando durante uma semana sem ter lugar certo para encostar a cabeça e se proteger dos perigos das ruas, encontraram conforto e abrigo na igreja de São Franscisco, no Centro da cidade. Lá receberam a ajuda que precisavam pra sair dessa situação: cama para dormir, alimento e roupas novas. João Batista e seu pai conseguiram trabalho de ajudantes em uma obra de demolição ali mesmo próximo a igreja. Não podendo morar na igreja, com ajuda na aquisição de alguns móveis, utensílios e cobertores, mudaram-se para uma casinha alugado na comunidade. Seu pai virou ajudante geral e sua mãe vende fatias de bolo e café no ponto de ônibus. A irmãzinha está na escolinha em tempo integral. A vida se segue.