Histórias que gosto de contar – Ciúme fake news

Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE,18 de julho de 2023

A falta de comunicação na relação marido e mulher é um dos principais sinais de preocupação para uma comunhão conjugal saudável. O diálogo entre os pares evita problemas futuros, e é, também, o momento de expor os desejos, as inquietações e os sentimentos. Quando isso não acontece, vem a falta de harmonia, levando ao desentendimento e ao desencontro. Então, fantasias brotam, aflorando o ciúme, o jogo da traição, que, mesmo não sendo uma situação real, esteja presente só no imaginário de um dos parceiros, pode vir a causar alguns estragos na relação, principalmente na relação afetiva. É um sinal de alerta, que pode indicar o medo de perder a pessoa que se ama para outra pessoa. Alguns consideram uma prova de amor e valorização da pessoa amada. Outros acham que é demonstração de insegurança.

Mariana e José Maria casaram-se muito jovens, ela com 18 anos e ele com pouco mais de 23. Ele, um rapaz da capital, alto, feições agradáveis, porte elegante, que chamava a atenção das garotas, entre elas Mariana, filha de fazendeiro remediado, que sustentara o casal em troca de ajudar ao sogro nas tarefas da fazenda, até ser indicando por um político, amigo da família, para uma vaga de assessor parlamentar. O casal, antes de ir morar na cidade grande tinha uma vida pacata, não pressentia o tempo passar.

Ela sempre envolvida nos afazeres da casa, ele, da lida diária na fazenda para casa, almoçavam e jantavam em uma mesa comprida, de doze cadeiras, ele numa das cabeceiras da mesa, ela no lado oposto, pouco conversavam. Dificilmente recebiam visitas, a não ser aos domingos, quando a família da esposa lhes faziam companhia, no almoço.

Ao se mudarem para a capital, se instalaram confortavelmente em um belo apartamento do fazendeiro, localizado no melhor bairro da cidade. Já estavam com mais de 12 anos de casados, um casamento sólido, sem brigas e desavenças. Na capital, ao encontrar os velhos amigos, a rotina de José Maria mudou um pouco. Alguns dias da semana, ao terminar o expediente na Assembleia, encontrava-se com os colegas e iam tomar cerveja. No princípio, voltava para casa às 20 horas, depois a hora da cervejada foi aumentando, e o horário de chegar em casa também. No íntimo de Mariana, as constantes demoradas do marido fizeram acender os primeiros sinais de ciúme, que guardava em silêncio, não reclamava. A percepção da sensação de abandono; da falta de afeto; de atenção e cuidados começaram a mexer com a cabeça dela.

Mariana, devido a sua educação caseira, sabia que não deveria tomar nenhuma atitude drástica, tinha que encontrar um meio de chamar a atenção do marido, sem ferir os brios dele. Também não queria causar nenhum constrangimento junto aos seus colegas de trabalho, nem tampouco publicizar sua insatisfação com o comportamento do marido.

Por outro lado, as ausências iam ficando cada vez mais constantes. O grupo com o qual saia, era apaixonado por futebol. O esposo começou a frequentar os jogos aos domingos, passou até a torcer por um determinado time. Vendo que as coisas poderiam se estender mais ainda, resolveu procurá-lo, por celular, às vezes de uma demora maior. Os diálogos sempre eram calmos e desconcertantes, para ele:

─ Oi meu bem! Dá para você chegar mais cedo, eu gostaria de visitar minha mãe, ela não está bem. – a resposta foi afirmativa, cedo ele chegou.

Naquela parte tudo correu bem, eles jantaram na casa dos sogros, voltaram cedo para casa, assistiram televisão e foram para a cama, recordaram os dias passados, com muito amor.

E assim ela foi procedendo. Uma vez ele estava em um bar com a turma e ela pediu para ver toda a turma. Desconfiado, mesmo assim passou as imagens do grupo para ela, que respondeu:

─ Que turma boa, ainda bem que não tem mulher no pedaço. Aparecendo alguma, diga que você é meu e ninguém tasca. – isso foi “viva voz”, ele esquecera de desligar essa função.

Os amigos aplaudiram o que ouviram:

─ Cara, tua mulher é legal e te ama de verdade, ─ disse um deles.

─ A minha não daria essa bandeira, gritaria para eu voltar logo – disse outro.

Isso deixou José Maria orgulhoso, nunca tinha pensado que sua mulher o amava tanto, a ponto de emitir sua opinião abertamente, para seus amigos de trabalho. Ele se ajeitou todo, deu nó na gravata, fez uma conta rápida dos seus gastos, tirou a quantia necessária para cobrir o que consumiu, desejou boa noite para todos, que boquiabertos, não estavam acreditando no que estavam vendo. Pouco depois todos o imitaram, voltando cedo para casa. Os anjos cantaram no Céu, louvando a senhora Mariana, esposa do amigo José Maria.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 18/07/2023
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