Sobre o Frio e Sobre Mim

Nos tempos de frio sempre lembro da minha infância...

Chegava a noite, o clima ficava escuro e eu lá, na rua com algum amigo.

Não tínhamos nada a fazer, sentávamos em algum lugar sem muito vento e contávamos histórias para botar medo um no outro.

Estava frio, muito frio. Nós de bermuda e camiseta, pernas recolhidas contra o peito. Colocávamos os braços e as pernas por dentro da camiseta para bloquear o vento cortante. Onde estariam nossos pais? O que estariam fazendo? Eles se davam conta?

O pior não eram as noites, eram as manhãs... Acordar cedo para ir à escola... Acordar cedo nunca foi meu ponto forte (até hoje não é), mas nas manhãs de inverno era pior.

Às vezes eu não tinha uma blusa grossa, então ia de camiseta mesmo ou uma blusa fina, gasta... Perguntavam se eu não sentia frio... Eu afirmava que não, que estava acostumado... Preciso dizer que estava mentindo?

Acho que as meias eram usadas apenas para sair de casa, dentro de casa ficávamos com uma calça de moletom e a esticávamos de modo a cobrir nossos pés. Coisa sem sentido, até hoje não sei porquê fazíamos isso...

Na hora do banho... Chuveiro fraco, fraco... Água morna, quase fria... Minha mãe se virava para enganar o frio... Colocava uma lata vazia de molho de tomate no banheiro, enchia de papel e álcool, acendia e ficava aquela chama patética, quase que se extinguindo, se esforçando para não perecer. Pronto, banheiro quente, hora do banho.

A caminho da escola eu ia pensando: "Quando eu crescer, vou ser presidente e colocarei uma lei que irá Proibir que haja aula em dias frios."

Cresci, não me tornei presidente, mas tenho uma blusa.