Pego na puxeta...!

Pois foi: papai pegou-me em pleno ato, no meio de nossa rua, de chão batido, rodeado da meninada da vizinhança, em pleno meio-dia, e ...bateu, bateu palmas para aquele pimpolho cabeçudinho, de cabelos espetados, que era a sua esperança de ser o craque que ele não conseguira ser... Eu, nos meus tenros seis anos, em meio aos incrédulos coleguinhas havia dado uma puxeta... A primeira, minha inaugural...

Com aquela bola de puro cuero argentino, com câmara de ar e uma propensão deslavada para saltar cercas e cair em quintais vizinhos, eu já havia aprendido a dar bicudas, dibrar, dar de calcanhar, esabecear, chaleiras e até ensaiar algumas embaixadinhas, mas, agora, aquela maravilhada estonteante capturada pelo olhar estonteado do papai, que vinha chegando de seu primeiro turno da fábrica de tecidos para o almoço...suarento, algodoado, mas feliz por testemunhar a proeza do filho...dando uma puxeta...que, aliás, nem havia sido planejada ou intuída...fora simplesmente o resultado de acaso, do dono da bola...que ao caprichar no balão, havialevantado demais o pé, e a pelota fora na direção contrária, passando por sobre minha cabecinha... e caindo suavemente em meu costado...

Dali pra frente, ou pra trás, eu ganhava uma certa ascendência sobre os meus pares, que se não eram donos de bola quiném a minha, tinham pais esperançados que certamente iriam saber de meu feito ...

E não havera de demorar muito, lá de nossa ruazinha do Quenta-Sol eu ainda iria descer para o campo gramado e me graduar junto à moçada, enfrentando muita canelada rumo à glória consagrada...

Mas no ano seguinte, nos mudamos do Brumado para Pitangui ...e nem campo gramado - ainda - havia ali...y mi sueño de pibe, realizar não consegui..

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 16/07/2023
Reeditado em 16/07/2023
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