A camisa do Vasco
Ganhei uma camisa do Vasco da Gama: Clube Regatas Vasco da Gama.
Meu pai vascaíno que era, apareceu sabe-se lá de onde com uma camisa do time de
tamanho infantil lá em casa. Tendo ele, dois filhos meninos que a pudessem usar, a conta não
fechava. Meu irmão era flamenguista assim como a minha mãe e tinha eu que nunca havia me
preocupado com isso. Meu irmão foi o escolhido para ser consagrado com o manto. Naquela
ocasião recusou-se aos privilégios de primogênito, assim fui agraciado com a camisa mais bonita
que eu já havia visto na minha vida.
Era linda. Até hoje eu acho aquela camisa linda. Era uma camisa branca com aquela faixa
preta que cruza os peitos, uma cruz de malta vermelha gigante com quatro estrelas douradas a
cima dela, da Finta e o patrocinador: Coca-Cola. Eu adorava Coca-Cola. Eu vesti e imediatamente
descobri-me vascaíno. Devoto de São Januário. Meu ídolo? Carlos Germano.
Informação importante que não mencionei ainda: meu pai sempre foi e ainda é
caminhoneiro e sempre adorou levar a mim e ao meu irmão em suas viagens próximas: quando
crianças para passear e vê-lo trabalhando, depois dos doze anos para ajudar carregando caixas e
qualquer outra coisa que estivesse em cima do caminhão. Não reclamo, gostava disso também.
Um belo dia, depois do almoço, vi meu pai suando e com a cara de assustado. Poucas
outras vezes na vida vi meu pai assim. Parou o trucado:
- Tira a camisa! Tira a camisa!
Não entendi nada. Minha camisa do Vasco? Pra quê? Como de costume, mesmo sem
entender, obedeci.
Meu pai, com minha camisa em mãos saltou de dentro da cabine, atravessou a rodovia,
pulou o guarda rodas da via e desapareceu dentro do matagal.
Caminhão ligado, eu sem camisa, sem meu pai e sem entender. Ele volta tranquilo, aliviado, outra
cara.
- Cadê a minha camisa? Perguntei.
- Ah meu filho... Limpei a bunda com ela!