LENDO ALGUNS POEMAS NA SACADA DA ALMA
Estava lendo alguns poemas de Charles Bukowski com sua escrita suja e depravada que, particularmente, eu adorava. Falava como todos os escritores e artistas estavam indo para um desfecho trágico de suas vidas, e como todos tinham algo em comum, a loucura. Mas não eram loucos por questões de deficiência – Apesar que alguns eram – Mas loucos por viver. Que certa maneira, exige muita coragem do psicológico. Mas escritores e artistas vivem mais intensamente que qualquer outra pessoa, se sujeitando e se infligindo à experiências malucas apenas para criarem uma representação da realidade mais genuinamente possível.
E nesse processo maluco de se viver. Muitos se perdem, enlouquecem, morrem de maneiras imprevisíveis ou simplesmente se matam. Ser artista exige muito do psicológico, do espírito e da intelectualidade. A impossibilidade de viver uma vida plena.
Charles foi um escritor e tanto. Quando fez sucesso em sua época, todos o odiavam pelo seu jeito de ser. Um velho alcoólatra, safado, sujo que via o mundo através do fracasso e da porquice. Ninguém gostava de Charles Bukowski e sua perspectiva de mundo. Mas depois de anos, hoje em dia, ele é considerado um gênio, onde todos o compreende e até mesmo usam seus versos como verdadeiras afirmações de vida.
Joguei seu livro de poemas no sofá, caminhei até a garagem ponderando. Não tenho tanta coragem de se viver intensamente e tampouco ter um fim trágico na vida. Mesmo que minha ambição seja do rumo literário, como pode? Sou um tanto controverso. Acendo um cigarro, vejo o início da tarde. Ninguém na rua, a não ser os gatos vasculhado os lixos. Tinha gatos de todas as cores, tinha um gato preto, um branco, um laranja, um cinza e outros todos coloridos com um monte de listras. Gatos por todos os cantos, vivendo, respirando de fora para dentro, de dentro para fora. As folhas da grande árvore do vizinho da frente caía sobre o chão da rua. Folhas por todos os lados. Gatos e folhas por todos os cantos. Apago o cigarro e acendo outro. Aprecio os gatos, aprecio a tarde e as folhas caídas. Então fico melancólico pelo o fato de não ter um emprego. Me sinto inútil por pensar que poderia está fazendo coisas grandiosas da vida. Poderia está vivendo. Mas viver na cidade requer grana para ser gasta. E minha situação social requer economia para sobreviver. Dois opostos. Então penso que outros artistas também vieram de baixo, artistas fabulosos, legendários. E cotonaram toda a pobreza e desamparo da vida de baixo. Como eles fizeram isso? O que eu preciso fazer para entrar no ramo do cinema? O que eu preciso fazer para sair desse buraco e ajudar aqueles que amo? Apago e acendo outro cigarro. Torno a olhar para os gatos novamente, tento chamar um. Mas são medrosos demais para seguir meu chamado.
Volto para sala, pego o livro de poemas jogado no sofá. Leio alguns poemas. Me sentindo como se tivesse lendo poemas na sacada da minha alma. Me sinto melhor, renovado. Pronto para escrever novamente. Vamos lá, eu só preciso escrever, e enquanto eu escrever tudo ficará bem, nos conformes. Só preciso me comunicar da maneira mais genuína possível. Vamos lá chaves, escreva um pouco. Deixei seu espírito tomar conta da caneta. Escute-o, o deixe livre. Não deixe esse estilo de vida monótono e pacato te derrubar. Leia e escreva. Só através da minha escrita que irei de fato conhecer à mim mesmo. Cada história. Uma desculpa esfarrapada de falar de mim mesmo. Cada história. Revelam os aspectos da minha alma. Minhas partes em uma folha, meu ser decifrado em palavras. Escreva e leia. Leia poemas. Como se tivesse lendo poemas na sacada da alma.