Olha a vela verde e amarela
Não me lembro em que ano nem quantos anos de idade eu tinha. Talvez 9 ou 10. Eu morava na rua Rodolfo Cecílio, no bairro da Penha. Tive bons amigos e experiências boas e ruins também. Vamos começar falando de um acontecimento bom e divertido. No início de certa noite, a energia elétrica acabou e todo o bairro ficou no breu... Eu e um amigo, meu xará, arranjamos uma vela e acendendo-a, saímos pelas ruas poeirentas do bairro, começando pela nossa, é claro. No início éramos só nós dois... começamos a gritar: " Olha a vela! Olha a vela!" E pra rimar acrescentamos: "verde e amarela, quem não compra, fica sem ela!" Aos poucos outros meninos começaram a nos acompanhar e, até mesmo garotos mais velhos se juntaram a nós, formando uma estranha procissão, na qual um grupo de meninos de pés no chão, maltrapilhos e desnutridos vagueavam pelas ruas da Penha gritando: " Olha a vela, verde e amarela, quem não compra, fica sem ela!" Percorremos quase todas as ruas da Penha até que, para a nossa tristeza, as luzes dos postes se acenderam tirando nossa graça. Mas até hoje, décadas depois, ainda me lembro e dentro de mim, um menino grita: "olha a vela, verde e amarela, quem não compra, fica sem ela!"