29-Coiseiras de Morro Seco: A Mala.
29-Coiseiras de Morro Seco: A Mala.
Naquele trecho de linha de ferro da Leste que ia do Juazeiro até Salvador e onde até correu um trem de luxo que tinha o nome de Trem Marta Rocha. Ali também correu um trem misto, carga e passageiros. Esse trem carregava na cola, ou no rabo que é como ali se fala, um carro de passageiros. E ali viajavam retirantes, comprador de passarinhos, recolhedor de jogo do bicho, quengas, esmoleiros, violeiros. Na estação do Itareru compravam passarinho asado no espeto de pau. Em Picos compravam caxixe. E ali andando no meio da caatinga, jogavam baralho, jogavam dominó, comiam farofa, riam e cantavam. O povo da beira dos trilhos chamava aquele trem de o “Rabo Alegre”.
Apitando, bufando, batendo o sino, passa jegue, passa bode. Maçaroca, Juremal do doce de leite, Flamengo do melhor imbu do mundo, Bonfim, Santa Luz, Queimadas, Itiuba, Alagoinhas da laranja docinha.
Noite escura o sujeito subiu no carro de passageiros e no porta bagagens acomodou uma enorme mala do jeito que deu e nem deu de bom jeito.
E o trem sacudindo e os passageiros dormindo e aquela mala caiu na cabeça do Tarzã, que esse era um capoeirista que se apresentava em circos e feiras. O tal Tarzã acordou tonto e deu um soco no passageiro que ia ao seu lado. Tal passageiro deu uma porrada na cabeça do passageiro do banco da frente. E foi que deu.... Socos, xingamentos, pontapés e o escambau...
Na plataforma da estação de Serrinha, um gemendo, outro com pé quebrado, outro com a perna inchada, ali um sentado no chão, outro com a cabeça quebrada, aquele cuspindo sangue...
O Delegado perguntou ao Chefe do Trem:
- Que aconteceu?
-A mala caiu.