Andava sobre o telhado de zinco a fim de recuperar pipas coloridas presas aos fios que interligavam aos postes de luz e observando (olheiros) àquelas singelas casas de tijolos não rebocadas.
Já havia feito aquilo inúmeras vezes por todo o bairro. Conhecia quase todas as residências de cima pra baixo. Era quase um “gato” soturno vagando por entre fios, muros e telhados alheios.
Muitos roubos à residências aconteciam, dia sim, dia não, misteriosamente, naquela região. Todos os casos sem solução.
No entanto, aquele dia ficaria marcado nos meandros da periferia da cidade.
Um casal de idosos que, em repouso absoluto do seu lar, viram um corpo despencar do alto, em meio à cozinha, na hora do almoço. Um susto dantesco. Telhado quebrado, madeira em farpas espetada nas partes íntimas daquele intruso. Uma senhora, pasmada, agarrada ao seu marido, começou a rezar. O idoso, nervoso, sentiu uma dor no peito e falta de ar. O sujeito grunhia mediante a dor que sentia. Cachorros latiam através dos muros. Um corre corre da vizinhança e curiosos. Os comparsas fugindo em debandadas com a chegada da P.M, e o SAMU.
Rapidamente a imprensa foi acionada e descrevia pormenores sobre o incidente e o volúvel empinar de pipas coloridas em ruas movimentadas da periferia da cidade.
Ali, o crime organizado é o poder, o tráfico é a lei, os empinadores de pipas são os “advogados”, as pipas coloridas são os códigos, as ruas da periferia são os fóruns, os caçadores de pipas; os “condenados” à liberdade ou à morte.
Por fim, as casas, os cidadãos, à tranquilidade envoltos à fenda nos olhos da justiça, mostravam-se fragilidade nessas localidades, onde tudo sabe, mas nada se resolve.
O jovem acidentado foi hospitalizado, operado, sentenciado a viver sem sua masculinidade. Sumiu com um caminhoneiro. Os idosos morreram poucos dia depois do ocorrido de infarto.
O crime mudou de bairro, de estratégia, de sobrevoos, agora atuam nos luxuosos condomínios dos playboys e seus “brinquedos”, drones invisíveis, a sobrevoarem em códigos criminosos sobre as casas vulneráveis dos cidadãos abastados.
Sabe-se que ainda resistem os “caçadores" agora de drones, entre as grades, arames farpados, muros eletrocutados, cães de raça e seguranças privados... Arriscam-se no ímpeto de liberdade ou da morte.
Extra! Hoje cedo, um indivíduo foi morto eletrocutado entre os muros de um condomínio à beira-mar. P.M., Forças Armadas, GCM, Corpo de Bombeiro, Secretário de Segurança Pública e a Imprensa compareceram ao local do fato. Os traficantes foram presos, a tranquilidade restabelecida e, portanto, a justiça feita.