Adriana Ribeiro
O sol brilhava lá fora, oferecendo calor e vida para todos os seres vivos do mundo, mas dentro daquele imenso dormitório, reinava a penumbra fria da tristeza, pois o coraçãozinho de Maria estava repleto de uma saudade profunda. A mesma que ali ficara desde o dia em que sua mãezinha partiu, deixando um vazio que jamais poderia ser preenchido.
Maria vivia no orfanato desde os três anos de idade, cercada por crianças que compartilhavam histórias semelhantes à sua, cheia de perdas e ausências. Porém, enquanto as outras crianças encontravam consolo nos braços amorosos de pais adotivos, Maria não tinha a mesma sorte e sentia falta da sensação especial de aconchego de um colo materno ou de um abraço acolhedor que parecia ser um refúgio contra as tempestades da vida.
Tornou-se arredia e introspectiva. Quase não se comunicava com as outras crianças e não permitia que os adultos se aproximassem demais. Escondia-se de todos e nos lugares mais inusitados da instituição. Sua baixa interação e a agressividade com os cuidadores causava a falsa impressão de que apresentava problemas de aprendizagem e até um certo grau de distúrbio mental.
Em dias de visitas ela observava as outras crianças sendo embaladas e acariciadas pelos casais em busca de filhos e sentia uma pontada de inveja misturada com a dor e a mágoa da rejeição. Seus olhos se enchiam de lágrimas quando viam os pequeninos adormecerem nos braços de suas futuras mães e pais, enquanto ela própria tinha apenas lembranças fragmentadas de um abraço que se desvanecia no tempo.
Em um desses dias cheios de angústia Maria descobriu que o destino pode surpreender com suas reviravoltas. Foi o dia que uma voluntária do orfanato chamada Sofia entrou em sua vida. Com seu sorriso gentil e olhos brilhantes, Sofia trouxe um pouco de luz para o coração solitário da menina. A jovem Senhora não podia substituir a mãe de Maria, mas suas palavras carinhosas e seus gestos afetuosos transmitiam a confiança e o conforto que a garotinha não sentia há muito tempo em relação às outras pessoas.
Logo já sentavam juntas nos horários das refeições compartilhando histórias e sonhos. Aos poucos era possível perceber um laço especial se formando entre ambas. A menina já não se escondia dos cuidadores e em poucos meses permitia-se até sentar-se no colo da nova amiga para fazer as lições e até para ouvir histórias na hora de dormir.
À medida que o tempo passava, Maria começou a entender que o colo de Sofia era diferente. Não era igual ao colo de sua mãe, mas também não era menos valioso. Era um colo que lhe oferecia apoio, encorajamento e uma escuta atenta. Feito um abrigo que secava suas lágrimas e lhe mostrava um caminho de esperanças.
Aos poucos foi aprendendo que, embora a ausência da sua mãe biológica nunca pudesse ser preenchida, haviam outros corações generosos dispostos a oferecer-lhe carinho e cuidado. Descobriu que o amor verdadeiro podia ser encontrado em lugares inesperados e que a orfandade não precisava definir seu destino, pois, “o colo de mãe” é feito de amor e compreensão, não apenas de laços sanguíneos.
Foi assim que Maria seguiu em frente. Sempre estudando e ajudando Sofia a cuidar das outras crianças que chegavam ao orfanato, lugar que também se tornou o seu lar. Ali, com o carinho e a orientação de Sofia, ela crescia sonhando ser uma psicóloga especializada em cuidar das crianças que, como ela, precisavam entender e ressignificar as perdas que a vida lhes impunha.
E enquanto o futuro sonhado não chegava, tornou-se uma escritora de contos infantojuvenis, pois encarava as palavras escritas como instrumentos para expressar suas emoções e compartilhar sua própria história e vivências com o mundo.
Maria acreditava que suas palavras poderiam tocar outros corações solitários como o seu, trazer-lhes conforto e mostrar-lhes que, mesmo na ausência do colo materno biológico, o amor e a confiança podiam florescer, porque “lar” e “mãe” são sinônimos de apoio incondicional e incentivo.