“Ciça, Chi-Chi e Martinica”
30.05.23
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Tenho três netinhas: Cecília , ou “Ciça”; Chiara, ou “Chi-Chi” (“qui-qui” em italiano) e Martina, ou “Martinica”.
Chiara e Martina são filhas, cada uma, dos meus dois filhos de sangue. Moram em São Paulo. Cecília, da minha enteada, mora em Porto Alegre. São peculiares, com personalidades diferenciadas e especiais. São especiais de verdade. Sou um “Nono” babão assumido.
E, para ilustrar essas características, conto fatos deliciosos que me aconteceram com as três, justificando a minha “babice”:
Cecília, ou “Ciça” é a mais velha, está com três anos. É falante, esperta e nos deixa boquiabertos com as suas tiradas, como a que aconteceu outro dia em que estávamos na casa dela em Porto Alegre.
Minha mulher, a “Oma” - avó em alemão, foi buscá-la a pé na creche perto da casa da sua filha ao final do dia. Ao chegar e procurá-la pelas instalações, deparou-se com ela correndo e a chamou:
-“Ciça”?
Ela não parou e seguiu em direção à professora, que lhe perguntou:
-Cecília, não é a sua vovó?
Ela ficou calada por alguns segundos olhando com cara de riso para a avó e disse de supetão:
-Não! Ela é a minha “Oma”, do “Nono” errado.
-“Nono” errado? - perguntou a professora.
-Sim! Ele vira de costas pra mim e mostra o bumbum. Ele é o “Nono” errado.
A mestra ficou olhando espantada para “Ciça” pelo que falou e disse:
-Então, precisamos falar para o Vovô que não pode fazer isso, não é mesmo?
-Ah, mas é engraçado ver ele mostrando o bumbum pra mim. Dou muitas risadas com o “Nono” Errado. Não é sempre que ele faz isso não, só de vez em quando - respondeu ela vivaz e sorrindo, colocando suas mãozinhas abertas com as palmas voltadas para fora na altura dos ombros e abaixando para o lado a sua cabecinha, emoldurada por cabelos loiríssimos e profundos olhos azuis.
Minha mulher nos contou este fato ao voltar para a casa da filha, com “Ciça” atenta ouvindo a história. Rimos, e de repente ela falou:
-Esse “Nono” Errado não tem jeito, não é “Oma”?
Chiara, ou “Chi-chi” – (“qui-qui” em italiano, pois o “ch” é “q” nesta língua), filha do meu filho mais novo, está com quase dois anos, mora em São Paulo e a vejo a cada trinta, quarenta dias quando vou para lá para matar as saudades, pois moro em Florianópolis.
É uma menina delicada, fala baixinho, olhar suave e esperto, agitada como o pai (ele pequeno não andava, corria pela casa) cabelos negros, olhos amendoados e grandes, pretíssimos, lindos. Eis como aconteceu o fato inesquecível:
Meu filho nos dava carona para o local em que estávamos hospedados, pois fomos jantar na sua casa. Eu, sentado no banco do carona, “Chi-Chi” atrás de mim na cadeirinha, sua mãe e minha mulher ao lado dela, quando a escuto falar baixinho:
-Vovô Nando ti amo!
Não entendi direito, mas minha nora ouviu e perguntou:
-“Chi-Chi”, o que você disse para o vovô Nando, ele não escutou direito.
Ela se aproximou mais do meu banco, colocou sua mãozinha quentinha no meu ombro, e quase num sussurro de carinho no meu ouvido, repetiu:
-Vovô Nando, eu ti amo! – com sua vozinha doce e meiga!
-Ah, “Chi-Chi” eu também te amo viu querida.
Fiquei o resto da noite com aquela fala carinhosa e querida na minha cabeça, alimentando a minha alma.
-Vovô Nando, ti amo.
Martina, ou “Martinica” é filha do meu filho mais velho e completou um ano. É um touro de forte, têm olhos grandes e claros, cabelos castanhos e acabou de aprender a andar. Gorduchinha, com dobrinhas pelo corpo, que nos dá vontade de apertar, uma fofa. A sua fome é de um adulto e vê-la comer dá gosto, pois seu prato de comida é quase igual ao meu. Come com vontade e sofreguidão, e se você demorar em dar mais uma colherada resmunga forte. Insaciável!
Sua força é fenomenal, arrasta cadeiras, mesas baixas, enfim vai levando o que tiver à frente. Um tratorzinho!
É a neta com quem tenho mais contato, pois ao ir a São Paulo, fico costumeiramente na casa desse filho. Acompanhei todos os seus passos, do nascimento até agora e é dengosa demais.
Em uma das vezes em que fui para a capital paulista de moto, encontrei-a acabando de acordar da soneca da tarde, e ao me ver , fixou seus olhos nos meus, abriu um sorriso escancarado e esticou seus bracinhos para mim, querendo meu colo. Minha nora viu a ação e disse:
-Ah Martina, você quer o vovô Nando? – tirando-a do carrinho e entregando-a a mim.
Peguei-a e a trouxe junto ao meu peito, com sua cabecinha querida em cima do meu ombro direito. Ela então me deu um abraço forte e apertado. Fiquei espantado e “deliciado” com este abraço espontâneo de puro amor.
-Esta dando um abraço apertado no vovô, Martina?
Ela manteve o abraço apertado por mais alguns segundos, colocando sua cabeça junto ao meu pescoço. Dei-lhe um beijo afetuoso na sua bochechinha macia.
Sensações maravilhosas que só quem é avô ou avó sabe como é. Por isso sou um avô babão, tenho motivos.
Minhas netinhas, meus tesouros!