Histórias que gosto de contar – A dor que faz matar
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE, 30 de maio de 2023
Caio e Abel não eram irmãos, mas grandes amigos. Foram vizinhos desde que nasceram, por coincidência, no mesmo dia e na mesma maternidade. Não imperava o pecado do ciúme entre eles, viveram em eterna harmonia, até os cinquenta anos de idade. Ambos estudaram juntos, fizeram a mesma faculdade e, depois de formados fundaram uma empresa que lhes rendia muita grana. Namoraram duas irmãs, cada uma mais bela que a outra, marcaram o casamento para o mesmo dia, na mesma igreja. Tiveram dois filhos cada um, as famílias se davam muito bem e eram felizes.
Já bem de vida, resolveram construir uma nova casa para cada um. Caio seria o responsável para achar um bom local, administrar a construção e gerir todos os recursos necessários para a empreitada. Com o terreno escolhido e comprado, uma área suficiente para duas casas confortáveis, e boa área externa, a casa foi construída. Obedeciam aos padrões arquitetônicos da época. Ficaram lindas as duas mansões. Abel nunca se preocupou com os gastos, tinha plena confiança em Caio.
As coisas foram ficando complicadas quando, pela primeira vez, Abel resolveu visitar sua casa, poucos dias antes de mudar com a família. Caio já estava morando lá fazia uma semana. Ao chegar à sua casa, percebera que as duas tinham o mesmo tamanho, mesmo padrão e mesma estrutura. Realmente eram lindas, pensou Abel.
Voltando para a empresa, resolveu verificar a contabilidade da construção, já que tudo era cuidadosamente acompanhado por Caio, que sempre tentara mostrar-lhe, mas nunca tinha tempo para isso. Ao deitar os olhos em cada passo do que estava demonstrado, verificou que haviam escriturados valores exagerados em algumas etapas da obra. Passo seguinte, contratou uma auditoria, para passar pano fino em tudo que ali era demonstrado.
Abel foi para casa, falou com a esposa que não seria possível se mudarem agora. Havia um problema, sem citar qual, na construção que os impediria de realizarem a mudança. Pediu para a esposa que não relatasse essa decisão. Infelizmente não foi o que aconteceu. Imediatamente a esposa de Abel telefonou para o amigo do marido e contou o que tinham conversado. A conversa entre os dois foi rápida. Antes de desligarem o telefone, marcaram um encontro pois, segundo Caio, ele também tinha sério assunto para falar com ela. O encontro ficou acertado para o outro dia. Ela também não deveria falar para Abel sobre esse encontro.
Em um bar bem distante dos locais onde os amigos se encontravam para conversar, estavam Caio e a esposa de Abel:
─ Bom dia Caio, qual o assunto que você tem para me falar?
─ Sente-se Zilá, será longa a nossa conversa. Toma alguma coisa?
A resposta foi seca:
─ Não! Vamos ao assunto.
─ O assunto que tenho a lhe falar é constrangedor, para mim e para você. Depois vai compreender a causa do adiamento da mudança de vocês.
─ Caio, estou com pressa e já ficando nervosa.
─ Seu marido vem traindo você há muito tempo.
─ Deixa de brincadeira, não gosto disso!
Caio falou direto:
─ E com minha esposa. Descobri recentemente, só não abri o bico por causa da construção das casas.
A esposa de Abel começou a tremer, perdeu os sentidos. Caio pediu álcool para o garçom e a fez cheirar. Rapidamente ela despertou e, chorando muito, pediu para ser levada para casa. Depois o marido viria buscar o carro.
Ao chegar em casa encontrou o marido desesperado, por não saber onde a esposa estava. Deveria, pelo menos, ter deixado um bilhete. Telefonei várias vezes para o seu celular e você não atendia, disse ele para a esposa .
Sem dizer uma só palavra a esposa foi até o seu quarto, abriu um dos compartimentos de seu guarda-roupa e, de um cofre, retirou uma arma. Voltou para a sala, apontou para o marido e atirou três vezes. Abel caiu sobre o tapete, e ali ficou. A esposa, sem querer ver o resultado de seu ato, saiu, chamou um táxi e desapareceu.
No dia seguinte, ao saber do ocorrido, Caio e esposa, tiveram longa conversa. Combinaram que ele sairia de casa, iria morar em outro país, já estava tudo acertado. Ela poderia ficar com a casa, com as ações da empresa, de onde tiraria o sustento dela, e seria responsável pelos estudos dos filhos. Formados, eles receberiam um pecúlio para o sustento próprio.