O garoto
Ele era uma daquelas pessoas tímidas que fazem você se encantar pela timidez do sorriso. O sorriso largo estampado no rosto vermelho, os olhos brilhantes de quem aspira um futuro e inúmeras incertezas que ele tem sobre si e sobre o mundo em que vive.
Nunca esteve só, pois por trás daquele sorriso, havia uma vida que, se se pensa sobre ele, não se consegue imaginar o que vive.
O menino que teve uma vida complicada, com alguns sustos que o marcaram para sempre. Quem o vê tímido, não imagina o que passara quando tinha apenas quatro ou cinco anos. Foi forte, porque precisou ser.
Andava sempre com duas cópias de si, uma, ele trancava a sete chaves, a outra, era tão ele e ao mesmo tempo tão o oposto dele - era seu irmão a quem ele queria proteger a todo custo, mas nem sempre temos o controle das vidas que nos cercam.
Quando o vi pela primeira vez, não conseguia distinguir "Tico ou Teco" - era assim que os chamava carinhosamente -, mas via em ambos um grande potencial, no entanto, nele - o primeiro -, havia algo diferente, havia uma sede de conhecimento que é comum a grandes homens - homens enquanto sociedade. Por ser tímido, a voz quase não se ouvia, sempre que falava era como se estivesse falando para si, mas o mundo precisava ouvir sua voz.
Entre um substantivo, um sujeito e uma redação, a voz foi ficando mais perceptível, mais nítida, mas também a verdade querer buscar seu futuro foi transparecendo e se tornando cada vez mais ascendente em seu sorriso.
Entre uma aula e outra, fomos criando um vínculo incrível, porque muitas pessoas passam por nossas vidas e outras poucas, nossos corações escolhem. E parecia que era isso mesmo, era um encontro de almas. Talvez o desejo de ter um filho - um dia - me fez olha-lo com esse olhar fraterno. O garoto é um bom menino. Cheio de sonhos, vontades, desejos. Vê-lo sofrer, de alguma forma, sofro também, mas perceber aquele riso largo, mais verdadeiro que antes me faz perceber que não foi só eu quem o escolheu. Ele é grande, vai desbravar o mundo, ser o que quiser ser.