Deixa Acontecer

Márcia olhou no espelho. Gostou do que viu. Estava se sentindo linda. Maquiagem perfeita, cabelos valorizando seu lindo rosto, o vestido lindo e caríssimo, que dividiu em quatro parcelas, mas que deixava ainda mais sensual seu corpo de curvas perfeitas.

Tudo tinha que ser perfeito naquela noite. O encontro, as palestras e a recepção. Ela tinha preparado tudo com esmero e do sucesso daquela reunião estava dependendo a promoção que tanto sonhava e que agora estava tão próxima.

Tudo correu às mil maravilhas. O encontro com os clientes, as palestras que todos elogiaram e a recepção que estava perfeita.

Ela estava feliz e comemorava. Tomava seu uísque e não escondia sua alegria.

Sutilmente ela encostou seu braço no braço de seu chefe, como quem está distraída. Ele fingiu que não percebeu.

Estava sentada ao lado dele naquela mesa junto com outros funcionários da empresa.

E ficaram juntos o tempo todo e entre uma dose e outra trocavam olhares provocantes.

E a festa rolava e não podia estar melhor.

Márcia acordou e olhou pro lado. Não acreditou que estava na cama de seu chefe que ainda dormia. Sua cabeça doía tanto que parecia que ia explodir. Seu estômago revirava como se não pudesse caber em si.

Aquela dose a mais de uísque seria a responsável por isso?

Fred estava sempre se insinuando e muitas vezes tinha discretamente cantado Márcia que fingia não entender e sempre dava um jeito de sair fora. Nunca quis misturar romance e sexo com trabalho.

Ela se esforçou tanto para que a noite fosse perfeita, e tudo correu tão bem, para que conseguisse a promoção por seu próprio mérito e no final acabou fazendo tudo errado.

Quando pensou na vergonha que estava sentindo por estar ali se sentiu ainda mais enjoada. Correu para o banheiro.

Sentindo-se melhor, voltou ao quarto e Fred já estava acordado.

Eles se olharam constrangidos.

-Bom dia! Pode me dizer como eu vim parar aqui?

-Bom dia! Não se lembra? Você não estava tão bêbada assim. É certo que abusou um pouco do uísque, mas parecia saber muito bem o que estava fazendo. Caso contrário eu não teria aceitado vir com você pra minha casa.

Márcia lembrou de tudo que aconteceu e como ele a envolveu e ela se deixou levar. Não foi forçada a nada. Foi com ele porque quis.

-Fred, você sabe tanto quanto eu que não era pra isso acontecer.

-Eu sei que eu sempre quis, mas você nunca me deu uma chance.

-Sabe que não gosto de misturar as coisas. Trabalho é trabalho, romance é romance.

-E não estamos misturando. Não transamos na empresa, mas na minha cama.

-Você é meu chefe. Não está certo. Você é peça fundamental na decisão sobre minha promoção. Estou me sentindo péssima.

-Eu estou me sentindo muito bem. Você é fantástica. Diga se você também não gostou? Pelo tanto que se derreteu e gemeu em meus braços, imaginei que foi bom pra nós dois.

-Sim, foi bom. Mas e agora? Como é que fica. Se eu tiver a promoção, todos vão dizer que eu me envolvi com você por isso. E eu não preciso de recorrer a este tipo de coisa.

-Eu sei. Mesmo que você não estivesse aqui comigo, o cargo seria seu porque tem competência. E prova isso todos os dias. E o que importa o que os outros vão dizer? Não devemos a ninguém satisfação de nossa vida particular.

-Não é bem assim. Tem outras pessoas envolvidas e que querem tanto quanto eu a promoção.

-Ei, para de ficar tão preocupada. Vem cá. Vamos curtir o nosso encontro que foi tão bom. Na segunda a gente vê a reação das pessoas.

Na segunda ela chegou na empresa e sentia que todos a olhavam. Pensava que todos sabiam do que rolou entre ela e Fred. Sentiu que cochichavam pelas suas costas. Sentia-se constrangida. Sempre foi uma funcionária exemplar e competente e jamais precisaria recorrer a este tipo de coisa, mas parecia que todos a reprovavam.

Dias depois foi promovida e o disse me disse rolou solto. Ela não podia se sentir pior.

Fred veio cumprimentá-la e todos olhavam.

-Agora que não sou mais seu chefe e que você é chefe como eu, podíamos sair para comemorar.

-Por favor, você está me deixando constrangida. Vê como todos estão olhando.

-Não vai me dizer que você, uma mulher inteligente, livre e descolada como é, vai se importar com isso. Deixe que falem. Estão com inveja. Vamos curtir nossa noite e eles que se danem.

Ela sorriu e aceitou o convite dele.

Deixe que falem. Sabia de si e era mais ela.

Esqueceu de seu propósito de não se envolver com um colega de trabalho e lá foi comemorar com ele.

Eram solteiros e livres e ela resolveu que sairia com ele quando e enquanto quisessem.

E deixa acontecer…

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 16/05/2023
Reeditado em 09/05/2024
Código do texto: T7789693
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