A virtude está no meio
O chefe deu os parabéns a Marco pelo bom trabalho efetuado. O rapaz ficou surpreso, pois na sua acepção, nada fizera de extraordinário.
- A empresa precisa de pessoas proativas como você para crescer! - Assegurou o chefe, dando-lhe um tapinha amistoso nas costas.
Depois que o chefe saiu da sala, Rosa, outra funcionária do escritório, aproximou-se dele, falando em voz baixa:
- Marco! Quer arranjar problemas para nós?
O rapaz a encarou com expressão aturdida.
- Mas eu só fiz o que ele mandou fazer... - justificou-se. - O que há de errado nisso?
- Não há nada de errado em fazer o trabalho que é da sua competência, - explicou Rosa - só que você, como é novo aqui, faz tudo rápido demais. Vai fazer parecer pro chefe que somos um bando de incompetentes.
- Mas... - titubeou Marco - vocês também poderiam agilizar um pouco as tarefas. Não é nada do outro mundo.
Rosa o encarou com o cenho franzido.
- Marco! O que acontece se trabalharmos mais rápido para cumprir as atividades que nos dão? Acha que vamos ter aumento de salário?
E diante da expressão de dúvida do rapaz, acrescentou:
- É claro que não! O que sem dúvida teremos, é um aumento de trabalho. E se o chefe perceber que somente você parece ser capaz de trabalhar com esse nível de entrega, vão acontecer duas coisas: primeiro, ele vai começar a demitir colegas nossos que não parecem ser tão eficientes, e segundo, as tarefas destas pessoas serão atribuídas a você. Vai mesmo querer herdar trabalho alheio?
Marco abriu as mãos.
- Bom... não quero tirar o emprego de ninguém, mas gosto de desafios. Disse isso na minha entrevista de emprego.
- E o chefe deve ter adorado, pois desafios para ele são clientes difíceis, que ninguém quer pegar. Aliás, acho que ele já está lhe delegando essas tarefas, não é?
Marco teve que admitir que isto de fato já vinha ocorrendo.
- Portanto, você não precisa ser mais eficiente do que nós - concluiu Rosa. - Para sua própria sobrevivência na empresa, é melhor permanecer na média. Se você se destacar, a única coisa que vai conseguir aqui, é ser punido com mais trabalho.
Marco, contudo, ainda não estava inteiramente convencido.
- E se eu me destacar tanto que acabe tomando o lugar do chefe? - Questionou em tom de desafio.
Rosa deixou escapar uma risadinha irônica.
- Acha mesmo que isso pode acontecer? O chefe é sobrinho do dono, não conseguiu esse cargo por questões de eficiência, mas de parentesco.
No dia seguinte, Marco começou a procrastinar na realização das suas tarefas, embora continuasse a cumpri-las de modo criterioso. Questionado pelo chefe, que parecia estar decepcionado com a queda no desempenho, ele explicou:
- Refleti muito sobre minhas atividades na empresa e cheguei à conclusão de que tenho que dedicar mais tempo à análise, antes da realização das tarefas que me são atribuídas. Só assim evitarei cometer erros por julgamentos precipitados.
A contragosto, o chefe teve que reconhecer que o argumento fazia sentido. E, desde então, Marco somou-se ao grupo absolutamente mediano de funcionários da empresa, aqueles que sabiam que não teriam muito mais para onde ir além do nível atual. E estavam perfeitamente resignados com isso.
- [13-05-2023]