Saiu para transar, acabou bebendo água.
Autor: Daniel Fiúza
03/07/2004
Nesse sábado ia fazer um ano da morte do sargento Militão. Regina tinha se mantinha fiel ao falecido até essa data. Já não agüentava mais, queria viver de novo, amou muito o marido, mas... Ele estava morto, ela vivinha da silva. Regina tinha só vinte e oito anos, e um filho de dez, casou com dezoito anos, grávida. Conheceu Militão numa festa de formatura, nessa época ele ainda era cabo, ela estava na mesa quando ele chegou e a tirou para dançar, Regina recusou, não gostou muito do aspecto dele. Ele insistiu, e disse:- Me conceda essa dança que eu caso com você. Regina riu muito e acabou aceitando. Ficaram a noite inteira juntos e antes do baile terminar eles já estavam namorando. Militão era um sujeito rude, quase grotesco, tinha um metro e noventa de altura, e uma musculatura de atleta, saiu da roça só para servir o exército, tomou gosto, acabou engajando. Dedicou-se muito e com vinte e quatro anos já era sargento. Sabia tudo de civismo e brasilidade, mas não tinha cultura nenhuma. Não gostava de ler, nem de ir ao teatro, só via filme de guerra ou faroeste, adorava ir ao estádio assistir seu time jogar. Era fanático pelo Clube Esporte de Recife. Era um homem pacato, mas quando saia do sério ficava muito violento. Regina era de classe média alta, sempre estudou em colégio particular, como seus pais tinham recursos, estudou balé, inglês, fora bem educada, freqüentava a sociedade, desfrutando das melhores amizades da cidade de Recife. Uma semana depois que conhecera Militão, estava completamente apaixonada. Aproveitando as férias do rapaz, eles se viam todos os dias. O amor era tanto que não deu para segurar, a transa foi inevitável. Regina entregou sua virgindade ao sargento musculoso, que sabia muito de nacionalismo, mas não entendia nada sobre concepção; Resultado... A menina engravidou. - Tô grávida, falou para Militão.
– grávida? Você vai ter um filho meu? – sim, já fiz todos os exames, dentro de nove meses, vou ter um bebe. Militão foi de farda de gala à casa de Regina, estava um pouco nervoso, o sr Diogo, pai da moça o recebeu muito bem e procurou deixá-lo à vontade. Logo após o jantar, o rapaz solenemente fez o pedido de casamento. A lua de mel foi no Rio de Janeiro, presente dos pais de Regina. Aqueles vinte dias foram os mais felizes da vida de Regina. O que mais Regina sentia falta era do amor. Militão era uma máquina sexual, o que ele não tinha de cultura, tinha de vitalidade e carinho; estando em casa, ele sempre queria fazer amor, muito amor, de noite, de dia, no sofá, no chão, na cozinha, sem falar nos fins de semanas que ele estava de folga, sempre iam para o sítio do pai dela e ficava se amando o fim de semana todo. Naquele fatídico domingo, justo no dia do aniversário de casamento deles, foram comemorar na praia de boa viagem, de lá iriam para um motel e só voltariam segunda cedinho, Pedro Jorge, o filho deles estava no sítio com os avós. Tudo parecia tranqüilo, até que numa freada brusca, um fusquinha bateu na traseira do carro de Militão. O homem virou uma fera, foi em cima do coitadinho do dono do fusquinha, e ameaçou cobri-lo de porradas, queria o pagamento no ato. O moço apavorado e com sua família no carro, não saia de dentro. Militão começou a balançar o pequeno carro quase a ponto de virá-lo, Regina chorava desesperada e tentava tirar o marido de lá, mas ele não lhe dava ouvidos, estava ensandecido. De repente Militão pegou o homem pela camisa e ameaçou arrancá-lo do carro a força. Regina que tinha voltado para dentro do carro, ouviu o tiro. Para salvar a família, o dono do fusca sacou uma arma atirou na cabeça de Militão. Aquela montanha de músculo, e pouco cérebro, ficou caído no chão numa poça de sangue. Ela passou o dia se embelezando, se depilou, fez as unhas, arrumou o cabelo, e se maquiou. ia estrear, vertido e sapatos novos, queria ficar linda maravilhosa. Estava há um ano sem um cobertor de orelha, tinha que arranjar alguém queria cama. Um homem para amá-la, queria naquele dia, a secura era muito grande. Saiu sozinha e foi para um barzinho freqüentado por homens de meia idade. Casados, solteirões, mal amados, e homens sem vergonha mesmo. O local sugestivamente se chamava “o consolo da pomba” Regina chegou, sentou numa mesa e pediu um chope. Não demorou muito, chegou o primeiro gavião, dançaram, mas ela o dispensou logo, o cara era apresado demais, depois veio, outro, mais outro, e muito mais, todos dispensados educadamente. Cinco da manhã, Regina percebeu que todas às mulheres já tinham se arranjado, menos ela. O barzinho já ia fechar e sua noite tinha sido um fiasco. Antes de ir pra casa, saiu passeando no calçadão, tinha decidido pegar qualquer um. Agora era desespero, afinal gastou tempo e dinheiro, não ia ficar sem um homem naquela madrugada. Nada... Não pintou mais nada para ela; até o porteiro do apartamento onde ela morava, um moço simplório do interior, um bem fortão, ela tentou. ela até já tinha tido fantasias com ele. Tentou, mas ele recusou, alegando que onde se ganha o pão, não se come à carne. Frustrada, cansada e desesperada, Regina se despiu e foi tomar banho. Olhou-se no espelho e viu o quanto ainda era gostosa e desejável. - Eles não sabem o que perderam, balbuciou consigo mesma. Então teve uma idéia, ligou o chuveirinho do bidê, sentou-se nele e colocou em cima do jato de água a sua parte mais íntima e carente, e disse com um ar de punição: – Taí sua boba, já que você não comeu nada, pelo menos beba água.