OBSESSÃO POR VALIDAÇÃO
A sonoridade de notificação vibrou pela milésima vez naquela noite debaixo de seu travesseiro. E apesar de sonolento, ele verificou o aparelho celular. Um sorriso cansado e com um pequeno toque de animação surgiu em seu rosto. Era Priscila; uma moça formosa, moradora de outro estado que havia enviado um 'boa noite, amorzinho, até amanhã, te amo (emoji de beijos repetidos)'; mensagem esta enviada através daqueles aplicativos da vã premissa de 'faça novos amigos!', mas que é de conhecimento geral que a maior parte de seus usuários estão ali à procura de alguém para oferecer um sentimentalismo barato e conversas picantes desprovidas de qualquer tipo de pudor.
Sim, Mateus se encaixava perfeitamente neste perfil de gentalha frívola, embora acreditasse ser um digníssimo cavalheiro intelectual de nobres valores. Com seus papos profundos, porém, ensaiados, ele conseguia o coração de quem quer que pusesse os olhos através da tela digital. Galanteador, e raso. Possuía potencial, mas o utilizava de maneira lamentável. Se dizia um sujeito profundo, contudo, permitiu que a carência o levasse a pessoas tão medíocres quanto ele (diga para ele que ele é medíocre, e prepare-se para o show de uma verdadeira drama queen em seu palco de estrutura fraudulenta).
Não completaria nem sequer uma semana desde que havia "terminado" com sua tão declarada amada (em suas palavras, ela era seu precioso alecrim dourado) web namorada, a garota que morava a milhas de distância dele, com quem havia sentido conexão tão forte quanto um fio frágil prestes a se romper. Mas ora, haviam se abrido um ao outro de maneira tão romântica e especial. Foram juras de amor aqui, juras de amor ali. Horas ao telefone amaciando a voz um do outro. Eram 'eu te amo' declarados cheios de paixão e carinho, e Mateus dizendo que ela era a mulher de sua vida. Em certo momento chegou a crer naquilo de fato, admite que aquela dali havia sacudido seu coração. Até uma outra usuária lhe enviar um 'Oi' e, uma conversa romântica paralelamente a outra começar a se desenrolar. Terminou o web namoro tão cheio de amores em pouquíssimos segundos como se fosse nada; assim como os anteriores namoros físicos e "sérios". Daí, Priscila era a garota da vez, sentada nas primeiras cadeiras da montanha russa de amores rasos de Mateus. Se fosse ele uma mulher, receberia o título de uma das mais rodadas da cidade e dos aplicativos de Internet.
Mas não se deixem enganar, é triste, pois a real razão daquela montanha russa de amores superficiais em sua vida talvez se deva ao fato de que Mateus não seja bem resolvido consigo mesmo. Dizia ser feliz com quem era, mas aquele papo era balela. Mateus pulava de galho em galho, pois era insuportável a ideia de ficar à sós com ele mesmo, sabe-se lá os motivos. Mas, sabemos que se enfia debaixo de saia em saia porque gosta das falsas validações (apesar de ele não admitir que são falsas) que as mulheres oferecem. De boca em boca seguia, alimentado por vãs palavras, desejando ser validado a todo custo. Validado para o quê, Minha Nossa Senhora?! Seria muito mais fácil a ele se admitisse a si mesmo o quanto era fraco por se comportar de tal maneira. Entretanto, a carência por atenção, amor e validez se tornou algo tão obsessivo que seria difícil de cessar. Se não conseguisse conquistar alguém na vida real, correria para os aplicativos, pois sabia que ali interação não faltaria. Encontraria alguém tão desesperado quanto ele. Jogaria suas palavras charmosas e pronto, teria companhia por sei lá… uma semana, um mês ou dois, no máximo. Depois, se viesse a se cansar daquela companhia, descartaria e iria em busca de outra. O importante era ter alguém para ter conversas banais (camufladas de raso intelecto), infrutíferas; a quem enviar nudes, e receber também (ora essa, os peitinhos e xanas desnudos)! O importante era alguém notar sua presença de alguma forma, validá-lo, inflar seu ego cada vez mais.
Se a tristeza, a solidão ou a carência batessem à sua porta, Meu Deus, seria o apocalipse se não tivesse em mãos os seus inúmeros contatinhos. Mas Graças a Deus, ele os tinha, sua salvação. Bendita tecnologia! Sua listinha de gentalha; seu oásis no deserto; a miragem passageira e falsa.
"Boa noite, minha doce donzela encantada. Te amo infinito, até amanhã, amor da minha vida (coração, coração, coração)", enviou a mensagem antes de dormir risonho, apatetado.
Dali três dias aquela relaçãozinha se findaria.