O Espectador

07.05.23

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- Boni e Boby:

Corriam alegres pela praia. Chapinavam a água felizes, parecendo ser a primeira vez. Eram dois cães, filhotes, pelo salpicado de pintas vermelhas, focinho comprido, simpáticos. Não paravam, iam e voltavam sem rumo. A felicidade deles contagiava.

Seus donos, um casal, seguiam atrás empunhando as coleiras. O homem assobiava para eles. A mulher chamava-os:

-Boni, Boby!

Alheios, seguiam juntos correndo pela orla da praia, ora pelo mar, ora chegando até às pessoas sentadas na areia. A sua peraltice e espontaneidade cativavam, abanando seus rabos longos e duros, lambendo qualquer parte de quem encontrassem. Divertidos!

O casal tinha dois meninos pequenos que, longe dos cachorros e dos pais, brincavam tranquilamente com as pequenas ondas que quebravam junto a areia. Boni e Boby davam mais trabalho que eles.

A mulher do casal chegou perto dos cachorros junto a uma banhista sentada, quase que totalmente lambida, agitando um brinquedo amarelo na mão.

-Vem Boni, vem Boby, vem!

Os dois saíram em disparada até a dona, que jogou o brinquedo longe na direção do seu marido com as coleiras.

Correram alegres e felizes e, percebendo que seriam presos, passaram por ele seguindo em direção dos meninos. Espertos os danados!

Os meninos, na água, viram os dois cachorros chegando e acenaram. Os cães adentraram o mar, correndo até os garotos.

Os pais chegaram, e toda a família se reuniu no raso do mar.

Boni e Boby não precisaram ser presos, pois saíram da água junto com os meninos e seus pais, na direção do local em que estavam na areia.

Boni e Boby sorriam com suas línguas pendendo das bocas.

- O Pai, o filho e a bicicleta:

Vinha o pai empurrando pela areia da praia o filho na sua bicicletinha sem rodinhas. A mãe seguia atrás.

O menino titubeava a cada perda de equilíbrio, mas o pai aprumava-o. Às vezes, deixava-o seguir poucos metros à frente, soltando a mão que segurava o selim. O menino pedalava sozinho alguns centímetros e logo balançava o guidom. De imediato, o pai segurava o filho e este, comodamente, deixava de pedalar, confiando que o pai o empurrasse. Percebendo que o menino se aproveitava do seu apoio, lhe disse de forma carinhosa e firme:

-Se você não começar a tentar a andar sozinho, não vai conseguir. Você já dá duas, três pedaladas sem eu segurar. Agora, é só ir pedalando e se equilibrando que vai andar sem a minha ajuda, tá querido?

O menino escutava a fala do pai olhando fixamente para o guidom da bicicletinha, com um dos pés apoiado na areia. A mãe passou a mão na sua cabeça como sinal de confiança.

Reiniciaram a marcha, e seguiram assim pela praia . Foram longe.

Voltaram depois de algum tempo, o pai empurrando a bicicletinha, a mãe ao lado e o menino correndo à frente.

-Pai e filho surfistas:

Vieram caminhando juntos e iguais, menos pelo tamanho. Pai e filho, menino com roupa de surfista preta e pranchas amarelas. Andavam pela areia, o pai olhando o mar e as ondas para definir em que local iriam entrar na água. Pararam por alguns segundos e o pai entrou no mar, com o filho atrás. Este o imitava em tudo.

Começaram os dois a remar deitados sobre as pranchas amarelas para passar a pequena arrebentação - o mar estava tranquilo com ondas baixas. Remavam e furavam as marolas em harmonia.

O pai, mais à frente, chegou ao local em que as ondas se formavam; o filho depois. Sentaram-se nas pranchas aguardando a que iriam descer. Conversavam. O pai falava, provavelmente, como o filho devia fazer para pegar as ondas, gesticulando com as mãos para exemplificar. O menino atento assentia com a cabeça - seu mestre!

Uma onda se formou, eles remaram, mas não conseguiram descê-la. Voltaram a aguardar. O homem voltou a gesticular para o filho. As pranchas amarelas brilhavam ao sol. Uma leve brisa batia sobre eles. Um dia agradável.

Nova onda se formou, o pai remou junto com o filho. Subiu na prancha e começou a surfar . O filho também. A marola se fechou e o pai rolou nela. O menino seguiu surfando–a até quase na areia. O pai observava-o sorrindo sentado na prancha. O menino acenou-lhe positivo, montou na sua prancha e seguiu para o local no qual o pai estava, feliz pela sua façanha.

Assisti a estas cenas interessantes sentado em uma cadeira sobre a areia da praia, como um espectador privilegiado.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 07/05/2023
Reeditado em 08/05/2023
Código do texto: T7782392
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