Conto De Fadas Às Avessas

Júlia chegou na capital aos dezoito anos.

A nova fase de sua vida começava junto com o Século XXI.

Tinha passado no vestibular. Ia cursar Bioquímica e seu sonho era ter seu próprio laboratório de análises clínicas.

Ia estudar em uma Universidade Pública.

Seus pais não eram ricos e iam se sacrificar um pouco para mantê-la na capital, mas se orgulhavam da filha cursar uma universidade. Eles não tiveram mesma a oportunidade.

Júlia era linda, tinha um corpo escultural, rosto perfeito, emoldurado por belos cabelos que só valorizavam sua beleza. Seus olhos eram de um tom de verde que chamavam atenção de todos, seu lindo sorriso mostrava seus dentes perfeitos.

Mas o mesmo não se podia dizer de seu modo de ser. Era ambiciosa, orgulhosa e tinha vergonha da condição financeira de seus pais, do carro que tinham e da casa que moravam. Nunca estava satisfeita com o que tinha. Sempre achava que merecia mais. Sempre cobrava deles uma vida melhor e dizia que queria ter nascido em uma família rica. Eles sempre fizeram tudo por sua princesa e sempre relevavam sua ingratidão.

Logo Júlia se entrosou e fez várias amizades. Conheceu uma garota linda e elegante que andava sempre bem vestida, sempre chique e se destacava. Ficaram amigas.

-Eu queria ser rica como você. Mas meus pais mal podem me manter aqui.

-E quem disse que sou rica?

-Pelo seu modo de vestir, sua elegância e pelos seus modos dá pra ver que tem dinheiro.

-Eu me viro na vida, minha querida.

-Você trabalha?

-Trabalho e muito.

-Você é tão jovem ainda. Como conseguiu tanto com trabalho.

-Se eu te contar você promete que guarda segredo? E se você quiser pode trabalhar no mesmo ramo que eu. Você é linda, elegante, tem uma boa educação e um bom nível cultural. Leva jeito pra coisa.

-Levo jeito pra quê? Com que você trabalha? Estou ficando curiosa.

-Eu acompanho executivos e milionários.

-Você é uma garota de programa?

-Não. Sou uma acompanhante de luxo. Eu os acompanho quando estão de passagem pela cidade. Acompanho num jantar, num show e depois os acompanho até o seu hotel.

-E rola sexo?

-Claro que sim. E a grana é boa e alguns dão até alguns mimos quando gostam da gente.

-Não sei se quero entrar nessa. Eu sou virgem. Sou uma bobina do interior.

-Virgem? Melhor ainda. Você pode leiloar a sua virgindade. Vai ganhar muita grana.

-O quê? Tem tanto valor assim? E não é crime isso?

-Tem muito valor. Não é legal, mas muitas garotas fazem e nunca dá problema. É só saber fazer. Vou lhe explicar tudo e lhe apresentar às pessoas certas, se você quiser.

-Eu vou pensar.

Júlia acabou aceitando a proposta. Ela foi preparada pra começar na sua função. Escolheu o nome Danúbia por seu significado. Ela se sentia a estrela mais brilhante e ainda tinha a virgindade para vender.

Júlia faturou uma grana alta já na primeira vez por ter um tesouro a oferecer.

Logo ela estava totalmente a vontade naquela função. Aprendeu a frequentar bons restaurantes, bons ambientes e se acostumou ao luxo dos hotéis cinco estrelas.

Quando ela se arrumava pra se encontrar com um cliente parecia uma verdadeira lady, uma socialite. Entrava e saia de qualquer lugar com elegância e finesse.

E o dinheiro ia entrando fácil. E ela se acostumando ao luxo.

Estudava à tarde e trabalhava à noite.

Sabia esconder de seus pais a vida que levava. Quando eles desconfiavam de alguma coisa que ela estava usando ela mentia sobre o preço e dizia que estava fazendo estágio pra comprar suas coisas. E eles acreditavam em tudo que ela dizia.

O tempo passava e ela ia adquirindo contatos que facilitavam sua vida. Ganhava presentes caros e se sentia uma rainha. Ela sabia enlouquecer seus clientes que sempre estavam dispostos a dar uma ajuda de custo a mais e lhe prestar favores.

O tempo foi passando e ela gostando da situação em que vivia e da grana que ganhava. Tinha tudo que sempre sonhou e sabia muito bem como enganar seus pais.

Um dia um jovem jovem empresário, filho de um milionário do interior resolveu contratar uma acompanhante de luxo para uma noite de prazer. Ele queria um jantar, dançar e terminar a noite com muito sexo.

Olhou os anúncios e resolveu contratar Danúbia por seu nome que significa “a estrela mais brilhante” e por seu belo corpo exposto no anúncio.

Ele estava muito entusiasmado e ansioso por chegar a hora de encontrar a dona daquele corpo sensacional.

Ele já estava no restaurante esperando por ela. Ao chegar ela fez o gesto que combinaram. Ele veio até ela para levá-la à mesa.

Quando se olharam os dois ficaram completamente constrangidos.

Eles foram até a mesa e se acomodaram.

Ele riu e não ousou falar nada. Ela estava pálida e nem conseguia rir ou falar.

Até que ele disse:

-Que coincidência! Numa cidade grande como esta eu escolher logo você.

Ela riu sem graça.

-É muita coincidência ou azar talvez. Nunca me aconteceu antes encontrar alguém da minha cidade. Muito menos conhecido. E o que você pretende fazer?

-O que você me sugere?

-De que adianta eu sugerir o que quer que seja?

-Vamos fazer o seguinte? Vamos jantar como velhos conhecidos. Eu vou fingir que lhe convidei apenas para um jantar e depois eu lhe deixo em casa e esqueço o modo como ocorreu o convite. Esqueço que convidei Danúbia e não Júlia para um jantar. Esqueço como terminaria esta noite. Podemos tomar um vinho e o efeito do álcool causar uma amnésia em mim.

-Seria muito gentil de sua parte agir assim.

-Eu sou um homem gentil. Mas você pode me responder uma pergunta?

-Faça a pergunta, eu me reservo o direito de não querer responder.

-Por que você entrou nessa? Sei que seus pais não são ricos, mas podem manter você aqui. Você continua estudando ou abandonou a faculdade?

-Meus pais se sacrificam pra me manter aqui e eu continuo estudando. Quero me formar. Mas meus pais não podem me dar nem um centésimo do que eu mereço. Eu gosto de roupas de grife, gosto de bolsas e calçados caros, gosto de jóias, de maquiagens e perfumes de bom gosto e caros, de frequentar lugares caros, de ter um carro, de morar bem. E este ofício dá muita grana. Eu posso viver como eu mereço e gosto. Você acha que se eu continuasse naquela vidinha medíocre eu poderia e saberia frequentar um restaurante como este?

-Vale a pena se vender pra conseguir tudo isso? Não seria mais digno se formar, trabalhar e então viver a vida que você tanto sonhou?

Ela riu:

-Quanto tempo você acha que eu levaria, trabalhando como bioquímica, para conseguir tudo que tenho hoje? Talvez eu tivesse que trabalhar de empregada por muito tempo só pra conseguir montar meu próprio laboratório. E então quando eu já estivesse velha eu teria algum conforto. Luxo, talvez nunca.

-Luxo é tão importante pra você?

-Você já viveu na pobreza?

-Não. Mas você não conhece o que é pobreza.

-Pra mim meus pais são pobres. E eu quero viver esta vida de luxo que estou vivendo. Frequentando restaurantes requintados, casas de show caras, hotéis cinco estrelas, bebendo champanhe francês e quero pra hoje e não para o futuro.

-Você sabe de sua vida, não é?

-Você não tem o direito de me julgar. Nasceu em berço de ouro e tem uma vida de luxo.

-Não estou lhe julgando. Cada um sabe de si. Toma um vinho?

-Sim. Você escolhe. Sei que tem bom gosto.

Mais tarde eles saem. Ele a deixa em casa e vai pagá-la.

-Não posso receber. Já valeu o jantar.

-Eu não vou lhe deixar no prejuízo. Você perdeu sua noite.

-Você também perdeu a sua.

-Isso é irrelevante.

-Não vou me fazer de difícil. Eu preciso da grana.

Ele paga e vai embora.

Conta pra alguns amigos sobre o ocorrido, mas sem contar quem era a garota.

Ela segue sua vida.

Tempos depois quando já estava quase formando conhece um milionário austríaco que estava a negócios na cidade.

Ela o acompanhou enquanto ele esteve lá. Ele a cobriu de mimos, de jóias, euros e se mostrava apaixonado.

Ele foi embora e prometeu que a buscaria e se casaria com ela.

Júlia se formou. Seus pais se orgulharam e se emocionaram.

Ela partiu pra Áustria onde se casou. Dizia a todos que não amava seu noivo, mas ele a tratava como uma rainha e se davam muito bem na cama. E o mais importante, ele podia lhe dar a vida de luxo que sempre sonhou.

Teve um casal de filhos e seus pais iam visitá-la ou ela os visitava quando era possível.

Seus pais nunca souberam da vida que ela levou na capital e achavam que ela era uma filha exemplar e recatada.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 25/04/2023
Reeditado em 25/04/2023
Código do texto: T7772623
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