Histórias que gosto de contar – O macarrão naufragou
Gilberto Carvalho Pereira - Fortaleza, CE, 18 de abril de 2023
Giliuma e Uilgito conheceram-se por acaso, namoraram por três anos, casaram-se só depois de alugarem uma casa com dois quartos, sala, cozinha, quarto de empregada, mandaram pintar ao gosto dos dois, compraram móveis, guarda-roupa, mesa para quatro cadeiras, sofá e poltronas para a sala de visita, eletrodomésticos, lindo fogão inox, de quatro bocas, geladeira inox, combinando com o fogão, TV, adquiriram enxoval completo, com lençóis, colchas de cama, edredons, toalhas de banho e rosto, individuais. Para o segundo quarto, uma estante para livros e uma cama de solteiro. Para a cozinha, uma pequena mesa para duas pessoas. No quintal, afastado da casa, o quarto e banheiro para uso da empregada. Todo o chão, onde tinha piso de taco, fora sintecado, ficou um brilho só. Cortinaram todas as janelas, parecida com uma casa de boneca.
Depois de tudo isso, marcaram a data do casamento. No cartório sem muita complicação, era só trazer os documentos dos dois e o cartório fazer a proclamação. Parecia que tinha muita gente com medo de um comprometimento sério e duradouro. Na igreja, a coisa ficou mais difícil, não havia data para a cerimônia, para os próximos dois meses. Verificaram que o problema era na escolha do horário e ser no fim de semana. Optaram para uma sexta-feira, o que foi aceito pelo padre que celebraria o casório, um colega de faculdade da noiva. Assim, a espera reduziu-se para duas semanas, com direito a um belo sorriso da noiva. Ambos se comprometeram a só abrirem a casa novamente, quando casados, isto é, na entrada triunfal dos dois.
Retornando à casa da mãe da noiva, começaram a elaborar os convites para a cerimônia religiosa, com efeito de casamento civil. O vestido da noiva já estava pronto, faltava o buquê, confeccionado com flores e ramos naturais, que só seria entregue na noite anterior do enlace matrimonial. Os nubentes eram uma alegria só. Logo, logo acabaria aquela chateação de ter que voltar todos as noites para a república, local de morada do noivo. Separação sempre incômoda.
Convites entregues, restava acertar com a responsável pelo banquete após o casamento, uma senhora conhecida da família, que a noiva a tinha como tia. Era o último compromisso daquele dia. Estava tudo saindo a contento, o casal estava satisfeito.
Cerimônia realizada, festa dos parabéns, ainda na igreja, jantar servido na casa da tia, era hora de ir para o hotel, reservado para a lua-de-mel. A noite foi tranquila, tudo dentro dos conformes. Ambos acordaram disposto e felizes, o festival de sorriso demonstrava isso. Era hora de irem para a residência do casal, que os aguardava para uma vida duradoura. Ali seria construído um lar de muita amizade, comprometimento e muito amor, garantiam os recém-casados. Seria o primeiro dia de muitos. Ali floresceriam os brotos de uma sólida árvore. Estava escrito nas estrelas.
Na hora do almoço, a noiva se comprometeu a preparar um delicioso prato para os dois. Pela primeira vez se sentariam, um olhando para o outro, frente à mesa só deles, trocariam olhares apaixonados, depois experimentariam o prato perfeito para a ocasião, pensou o noivo. Sendo a mãe dela uma cozinheira de mão cheia, por certo passara todos os segredos para a filha, nesse quesito.
─ Amor, venha aqui, rápido! Gritou a noiva.
─ Espere um pouco, estou tomando banho, respondeu o noivo.
─ Tem que ser rápido, retrucou a companheira.
Ainda enrolado na toalha de banho ele acorreu ao pedido da esposa. Na cozinha, percebeu que nada ia bem com o delicioso prato prometido. O macarrão estava completamente afogado em uma panela com água fria, até a borda.
─ O que você fez com o pobre do macarrão?
Envergonhada, ela respondeu:
─ Eu coloquei o macarrão dentro da panela com água, acendi o fogo e tudo virou papa.
─ Meu bem, você deveria aquecer a água até à fervura, colocar um pouco de sal, só então despejar o macarrão, sem parti-lo ao meio.
Cabisbaixa, a esposa pediu desculpas, confessando que não sabia cozinhar, nunca se interessara a aprender. Em seguida perguntou:
─ Como você aprendeu? Perguntou a agora, senhora Uilgito.
─ Fui morar em São Paulo, aos dezoito anos de idade, sozinho. Tive que aprender rápido, senão passaria fome. Depois interessei-me por essa atividade, prazerosa e gostosa. Mas não se preocupe por hoje, vamos almoçar no melhor restaurante da cidade, comemorando a nossa união.