Fantasiosamente

Clóvis contempla com gratidão suas mais de oito dezenas de vida vividas. Lá pelos seus setenta e sete, insegurança que sempre o acompanhou, apresentou-se também, na forma física, em labirintites, desequilíbrios e significativa dificuldade de andar. Procurou um neurologista, que o prescreveu fazer musculação.

A academia que frequenta tem três andares. Inicia seus exercícios no terceiro andar, num aquecimento, fugindo das esteiras, pedalando numa dessas bicicletas de academia, que fica na única sala, que tem um janelão com vista para a pequena cidade, onde vive o presente. As bicicletas ficam com as costas para o janelão e de frente para um grande e largo corredor, onde fica as esteiras e outros aparelhos semelhantes.

Giulia é a fisioterapeuta e empresária da academia. Ela e mais uma equipe de profissionais atendem os clientes. Giulia mais uma vez chama atenção de Clóvis, pedindo que não inverta a posição da bicicleta, para que fique de frente para o janelão.

Giulia desta vez, demonstrando certa irritação, pela indisciplina de Clóvis, além de pedir-lhe para que pare de inverter a posição da bicicleta, toda vez que faz seus exercícios, lhe inquire: por que o senhor insiste em não atender nosso pedido?

Clóvis, além de ter a prolixidade dos octogenários, tem grande inclinação à mesma, por ser de Gêmeos, com ascendente em Virgem. Inicia sua resposta-palestra com a seguinte ponderação: Giulia, sabemos todos, que a nossa mente é nosso governante, nosso senhor. Aí está o porquê.

Giulia, sei que essa resposta não satisfaz, por isso vou te lembrar uma das muitas cenas lindas do filme “E. T., O Extra Terrestre”, do cineasta-mago Spielberg: pequeno grupo de iniciantes da adolescência, de recém saídos da puberdade, “pubercentes”, pedalando suas “bikes”, um deles carregando o terno protagonista “E. T.”, tentam fugir de grande aparato militar, para levar o “E.T.” ao local onde seria resgatado de volta ao seu lar. Entretanto, chega um momento em que estão cercados, não existe saída e a mente extra terráquea do “E.T” faz com que todos do grupo transformem suas “bikes” em pequenas e ágeis naves. Eles, literalmente, voam e conseguem escapar do aparato militar.

Então Giulia, assim como a mente de Spielberg criou essa fantástica e improvável fuga na realidade do mundo físico, eu inverto a posição da bicicleta para sair, fantasiosamente, fugir janela a fora, desse torturante aparato sonoro, comuns às academias, para voar sobre as áreas verdes da cidade e deleitar-me com a sinfonia da Diva Natureza.

Fantasiosa mente, ora senhor feudal, ora “pubercente” libertador...

J Coelho
Enviado por J Coelho em 11/04/2023
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