Picuinhas entre genro e sogra

                                                                                                                                        

                                                                                                                                       Adriana Ribeiro

 

     As contendas entre genro e sogra já viraram tema de piadas e anedotas faz tempo. Por isso, quando ouço relatos dessa natureza, penso logo com meus botões:

     __ Lá vem mais uma pilhéria sem graça!

     Mas outro dia me vi dando boas risadas com um causo contado por minha vizinha sobre um episódio da guerra declarada entre o próprio marido e sua mãe.

     O marido da Dona Simone é um carpinteiro conhecido na cidade e, por isso, anda sempre cheio de serviços. É um Senhor de meia idade super gente boa. Bom marido e excelente pai. Todos os vizinhos o admiram e respeitam por sua índole pacata e natureza bem humorada. Já a mãe dela é uma senhorinha sexagenária, aposentada, ranzinza e antissocial. Gosta de morar na roça, mas todo início de mês vem à casa da filha a fim de ir com a mesma ao banco receber o benefício.

     Porém, sempre que isso acontece uma situação inusitada se desenrola. Seu Floriano, o genro anfitrião, gosta de beber um pouco nos finais de semana e, quando bebe, costuma cantar que é uma beleza! Vai do assovio ao canto teatral, simulando ópera. Mas dentro do seu repertório há uma música que não lhe sai da memória e, vira e mexe, está a cantá-la. Principalmente se uma certa visita estiver em sua casa.

 

     No final do mês de março Seu Floriano fez aniversário. E foi justamente no final de semana em que festejava o evento que a mãe da esposa chegou para esperar até a segunda-feira para regularizar suas contas. Assim, depois de já ter se arreliado com o genro durante todo o sábado, no domingo Dona Ione resolveu evitar as chateações do genro e ficou observando que horas ele chegaria do bar. Quando ouviu o barulho da bicicleta parando no portão da frente, não pensou duas vezes, se escondeu embaixo da cama antes que o mesmo entrasse em casa.

     Na rua que ficava no fundo da casa, uns latidos de cachorros se fizeram ouvir e, segundo a Dona Simone, era por ali que o marido passava quando vinha do bingo que frequentava nas tardes de domingo. Com certeza os bichos cismaram com os estalos da bicicleta velha que trazia o marido para casa. E parece que naquele começo de noite a perseguição foi mais intensa, pois, o companheiro já chegara reclamando.

     Assim que conseguiu abrir o portão dos fundos, Seu Floriano largou a bicicleta no chão e entrou em casa “soltando fumaça pelas orelhas”. A barulheira era tanta que Dona Simone interveio, dizendo:

     __ Deixa de barulho que mamãe já está dormindo, homem!

     Mas o pedido surtiu o efeito contrário. O marido, em vez de ficar quieto, resolveu entrar no quarto a procura da sogra para tirar conversa. Mas ao chegar diante da porta e não avistar sua antagonista, foi logo dizendo:

     __ Oxente mulher! Eu bebo e você se embebeda? Onde foi que você viu sua mãe dormindo?

     Dona Simone tomou um susto!

__ Ora essa! Vai dizer que aqueles cachorros latindo na rua era mamãe que já estava indo embora sem me avisar?

     Dona Ione, no entanto, estava bem quieta embaixo da cama ouvindo tudo. Quase nem respirava para não fazer nenhum barulho que chamasse a atenção do genro. Mas, para o seu azar, o gatinho da neta embolocou no quarto e foi direto para onde ela estava miando alto e atraindo a atenção do visitante que ela tanto tentava evitar. E não deu outro resultado. Seu Floriano abaixou-se para escorraçar o gato e deu de cara com a sogra que fingia dormir embaixo da cama, enrolada de cabeça e tudo.

     Ao vê-la ali escondida, porém, o genro não esboçou nenhuma reação. Apenas levantou-se cambaleante e saiu do quarto cantando:

     A velha embaixo da cama

     A velha criava um gato…

 

     Dona Simone encontrou o marido no corredor com a cara mais cômica que já tinha visto na vida. E ao encará-la, Seu Floriano colocou o dedo indicador sobre os lábios e piscou um olho como se conspirassem. Naquela hora o estranhamento a deixou sem ação mas, quando entendeu o que estava se passando, não conseguiu evitar de sorrir.

     Nunca havia dado tanta risada das picuinhas entre o marido e a mãe quanto naquela noite enquanto o ouvia seguir cantando pelo meio da casa:

     __ Na noite que se danava

     O gato miava e a velha dizia:

     Ah! Meu Deus se acaba tudo!

     Tanto bem que eu te queria…

 

 

 

 

 

 

 

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 10/04/2023
Reeditado em 22/04/2023
Código do texto: T7760580
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