A Cidade Solitária
À noite, não havia ninguém na rua, só a lua iluminando o céu. Não tinha ninguém na praça, não tinha ninguém no bar. As ruas estavam desertas e as casas com as luzes apagadas. Estava fazendo frio, toda noite fazia frio. Mas as pessoas não pareciam se importar com isso. Os moradores daquela cidade não se importavam com nada, eram solitários. A cidade era solitária.
Ninguém saía, ninguém entrava e aqueles que residiam eram sozinhos. Cada morador ou moradora, morava só. De dia, eu via as pessoas passando umas pelas outras sem ao menos se cumprimentarem, não se olhavam e se elas se olhassem, olhavam-se estranhamente. As pessoas eram centradas em si mesmas, em seu mundo. Não tinham contato com ninguém, não havia amor nem felicidade, as pessoas eram tristes e naquela cidade só havia apenas a solidão. De manhã, as pessoas tomavam café sozinhas. Algumas saíam, outras ficavam em casa. Algumas iam ao supermercado, faziam compras e voltavam para casa. Algumas compravam produtos para uma família inteira, porém não havia família naquela cidade. Ninguém lia livros, todos tinham uma máquina. As pessoas passavam um bom tempo em suas casas mexendo na máquina. – Com quem conversavam? Por que nunca saíram da cidade ou receberam alguma visita? – perguntava a mim mesmo.
Meio-dia, as pessoas almoçavam sozinhas, tomavam banho sozinhas, viviam sozinhas em casa. A maioria, geralmente, fica trancada. Chegava a tarde, a bela imagem do sol se pondo era uma beleza. Porém, as pessoas não olhavam o pôr do sol, elas nem olhavam para o céu. Não pareciam ouvir os pássaros, não pareciam sentir o vento soprar e tocar sua pele, não pareciam sentir calor ou frio. Nas noites, ninguém olhava para a lua, ninguém admirava as estrelas. As pessoas pareciam humanas, porém eu duvidava se realmente eram. A noite chegava, ninguém na rua. O frio tomava o ambiente, mas ninguém saía de casa ou recebia alguém para passar a noite, ninguém se esquentava com ninguém, tudo era frio. As pessoas eram frias, não havia sentimento naquela cidade, não havia amor. A rotina dos moradores era de casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Isso para quem trabalhava. Ninguém saía com outro alguém, estavam sempre sós. Não havia casais. Ninguém presenteava a ninguém, não havia sequer um toque, não havia sequer um beijo nem abraço, não havia contato. Já fazia tempo.
As pessoas pareciam humanas, mas não sei se realmente eram. Eu, no meio de toda aquela solidão, também me sentia só. Era inevitável. Porém, parecia que eu era o único a me importar com aquela vida, com aquele presente, com toda aquela solidão. Cada pessoa morava sozinha em sua casa. Eu já não aguentava mais. Mas as pessoas não sentiam nada. – Em que mundo elas vivem? – perguntava a mim mesmo.
Eu já estava cheio de toda aquela cidade. Eu olhava pro céu e admirava a sua magnitude, olhava o pôr do sol, ouvia o canto dos pássaros, fitava-os voando, eu adorava a beleza da natureza, da vida. Porém, eu fazia tudo isso sozinho. Eu já estava cansado de toda aquela solidão. Eu estava me sentindo morto. Era assim que eu via as pessoas daquela cidade, mortas! Eu não sei o que havia acontecido naquela cidade, mas as pessoas eram tristes e solitárias. Elas não viviam, existiam! Não apreciavam a vida, não contemplavam o céu azul, o pôr do sol, elas não se davam conta de que estavam vivas e de quão bela é a vida. Elas eram tão frias, estavam mortas! Eu me perguntava se elas também se davam conta disso.