O Natal de Marisa
Marisa sempre fora uma meiga menina, gostava de ouvir histórias atentamente vivenciando-as com todo seu sentir, adorava a dança também assim sendo desde seus primeiros passos aprendeu sozinha a flutuar nas canções que ressoavam da vitrola, encantava-se com as flores do jardim e com elas fazia colares e brincos para se enfeitar em suas fantasias infantis.
Como quase todas as meninas gostava ainda de brincar de fazer comidinha, certo natal ainda com cinco anos pediu ao Papai Noel um fogãozinho com forninho igual ao da mamãe.
Na manhã do dia 25 acordou e foi correndo conferir os presentes e lá estava o lindo fogãozinho branco pedido. De imediato percebeu que havia sido atendida e envolvida na alegria do brinquedo logo foi preparar quitutes para o chá das bonecas, no ritual encantado as mãozinhas delicadas elaboraram carinhosamente um delicioso bolo e uma sobremesa.
Marisa enquanto embalava as filhinhas aguardava o ponto do bolo no forno e do pudim na boca de gás do seu fogãozinho, passou todo seu repertório de cantigas e nada de assado ou cozido, até que ao olhar para o fogão da cozinha de sua casa, teve a idéia de colocar seu fogãozinho novo dentro do forno que estava sendo pré aquecido para assados do almoço em família, desta forma teria certeza que suas “filhinhas” seriam realmente alimentadas com o bolo e doce que fizera. Marisa ficou maravilhada com a idéia e a colocou em prática, com um pano nas mãos (como fazia sua mãe) abriu o forno e lá colocou seu fogãozinho com a certeza que teria uma festa pronta para o chá das bonecas, era só aguardar.
Alguns minutos mais tarde sua mãe foi usar o forno e lá estava o fogãozinho derretido,
Transformado em massa de plástico, fazendo do presente um sonho desfeito.
A mãe, claro não gostou da atitude de Marisa, pois sempre alertava as crianças para não chegarem próximas ao fogão, Marisa sensível e esperta contou à mãe que fizera de seu fogãozinho o filhinho e do fogão da mamãe a mamãe de seu fogãozinho e nada mais fizera que colocar o filhinho junto com a mãezinha.
Cinqüenta anos se passaram e a cena permanece viva para Marisa, agora na proximidade do Natal ela que não tem mais sua mamãe percebe que a cena vivenciada na infância nada mais é que a essência de ser filho ou filha. Clara agora está para Marisa à mensagem da história do fogãozinho, no calor do colo de uma mãe todo filho tem que se derreter, é esse o caminho para aprender o princípio do prazer de estar no mundo.
Marisa sorri, o seu coração já não pequenino como no tempo do fogãozinho, sente o calor do afago de sua mãe e envolvida nos devaneios sente os aromas dos assados dos natais da sua infância.