Dona Menina
Dona Dulce tinha uma passadeira cuja filha era pequena. Como não tinha com quem deixá-la, levava a menina para a casa das clientes.
A patroa não se importava, afinal a serviçal ficava no andar de baixo, no quartinho dos fundos e a menina não dava trabalho ali.
Haviam-se passado os anos e a menina virou mocinha, agora, ao acompanhar a mãe, ajudava na limpeza da casa por alguns trocados. Às vezes olhava as crianças, netinhas da Dona Dulce que a chamavam como todos da casa: "Menina".
Menina lavava os banheiros, aguava as plantas e dava de comer às crianças. Ajudava silentemente a empregada doméstica de Dona Dulce, que sempre tinha uma lista de afazeres para ela.
A moça que era tímida e recebia as ordens cabisbaixa, não se importava com o apelido que lhe deram e tampouco se chateava por desconhecerem o seu verdadeiro nome. Assim, com a morte da mãe, Menina continuava a trabalhar para aquela casa e na função da falecida, lavava e passava as roupas e ainda fazia pequenos consertos.
Um dia, Dona Dulce também se foi assim, como tudo se vai. Nesses anos, seus filhos que ainda não tinham se casado, se casaram ou se mudaram e a casa fora vendida sem anúncio prévio.
O tempo passara sem se deixar perceber, como era de se esperar... Hoje, quem sobe a ladeira, acesso à comunidade Rosa dos Ventos, vê a plaquinha na porta de um dos sobrados sem pintura e sem calçada: "D. Menina - Conserto e entrego lavado & passado".