O grito do silêncio

Um estúdio todo branco, pessoas caminham de um lado para o outro desmontando o set de filmagem. A jovem atriz e modelo Tania Anderson caminha desnorteada com suas duas colegas de trabalho do lado, uma figurinista e uma maquiadora.

No camarinho Tania esta em frente ao espelho, olhar triste, maquiagem borrada, passara um tempo trancada no banheiro chorando. A figurinista começa retirar a peruca ruiva e ondulada, esse era o cabelo que o público mais gostava na atriz, logo depois a maquiagem começa a ser retirada, o desmonte está completo. Agora esta somente Darlene, esse era seu verdadeiro nome, sentada no sofá fumando um cigarro com um roupão azul-escuro, lagrimas escorrem pelo seu rosto.

Darlene caminha alheia pela calçada a procura de um táxi. 

O motorista, que desde que ela entrou esta a observando, dispara.

— Você é Tania Anderson?

Pensativa e de cabeça baixa, somente assente.

— É um pouco diferente da TV e das fotos, mas ainda assim da para saber que é você.

A moça apenas da um sorriso insípido.

O homem era insistente, mesmo sem o menor interesse interativo da moça ele continua.

— Adorei aquela campanha que você fez para a cerveja, aquele corpo todo que aparece de biquíni nas imagens é seu ou tem algum truque, ou montagem?

Salva pelo gongo, chegam ao hotel, ao descer lhe paga e sai do carro.

— Tania, o seu troco.

Ela simplesmente se vira rapidamente fazendo sinal que não precisava e entra no hotel. No elevador, alivio, apos um dia de mais de sete horas tirando fotos, se maquiando, muitas trocas de roupas e dando entrevista para a revista mais famosa do país só quer chegar no seu quarto e deitar, se desligar do mundo.  Coloca o capuz da blusa cobrindo o seu cabelo, sua perna direita balança sem parar, o elevador para, entram duas mulheres, Darlene se encosta no canto evitando contato visual, mas as duas a observa, a família sempre se hospedava ali e sabiam que muitos famosos faziam estadia ali.

— Da licença, você não é aquela moça que fez personagem prostituta naquela novela?

Oprimida no canto se sentindo um grão de areia solto no espaço nega com a cabeça.

— É, sim, Tania! A garota afirma para mãe.

— Uma foto, somente isso.  

Mãe e filha cercam Darlene a espremendo. Flash.

Com o rosto enfiado na pia cheia de água, Darlene grita, bolhas sobem com toda pressão.

Deitada no sofá, assiste à televisão e tenta relaxar um pouco, mas não consegue. Lembra de algumas técnicas da época em que fez terapia, que não durou muito, se levanta ofegante com as mãos tremulas, para de frente para a janela, esta a mais de trinta andares do térreo, pensativa, olha para baixo, se lembra da mãe e do filho que já não vê a mais de dois meses e recua. Pega um copo e coloca wisky, sentada novamente respira fundo e bebe em uma golada.

 A porta se abre e um feche de luz entra.

— Que escuridão toda é essa? — Afonso diz acendendo a luz.

Com os olhos cerrados o observa, ela não deseja interação. Afonso é seu empresário e amante. Tirou-a da vida da pobreza, se conheceram em um evento para jovem talentos. Um homem prepotente, arrogante e aproveitador.

— Acabei de fechar um novo contrato para você. Uma campanha para um site adulto, tera que fazer algumas fotos de nu artístico, mas nada muito revelador. É um bom dinheiro, já aceitei o trabalho, vamos nos encontrar com eles amanhã e assinar.

Darlene respira fundo e nega com a cabeça.

— Ainda está com aquela palhaçada do joguinho do silêncio? 

Ele caminha até ela e a puxa do sofa tentando beijar a sua boca, se desviando tenta sair, insistente tenta tirar a sua calça, mas ela segura e reluta, mas o homem não desiste, ela pega um pequeno vaso de planta e bate na cabeça dele.

— Vagabunda! — Ele cai segurando a cabeça que esta com um pequeno corte. — Não se esqueça de quem é você e quem sou eu!  

Nervoso se levanta e abre a porta e sai a batendo com toda a força, com certeza foi atrás de garotas de programa e drogas. Darlene Cai no tapete tremendo em prantos.

Algumas horas depois está no quarto, fazendo um nó forte em uma toalha úmida, ao seu lado estão algumas pelúcias, fotos dela com Afonso, outras de suas campanhas e algumas outras coisas da vida de Tania.

No meio da madrugada Afonso abre a porta, esta um pouco alterado, procura por ela, ao cruzar o corredor se assusta ao ver a toalha pendurada no lustre e uma sacola transparente com alguns pertences da atriz dentro, incluindo fotos do casal, ao pegar a sacola do outro lado vê um papel com os seguintes dizeres, "hoje Tania morreu".

Encostada na poltrona do avião, Darlene respira aliviada e chora de emoção ao olhar uma foto da mãe e do filho na tela do celular.

Willian Nicácio
Enviado por Willian Nicácio em 20/03/2023
Código do texto: T7744133
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