Pacotinho Preto e Peludo
Após ver um filme inspirador na Tv, resolvi fazer o que meu coração anda me sondando já algum tempo. Esse pacotinho preto e peludo, que recosta suas costas suavemente em minhas pernas, inspira-me a descrever o cenário do meu quarto. No lugar de paredes brancas sinto uma luz suave e azulada, que transporta-me como num raio de luz, até a lua prateada que adorna o céu, nesta noite silenciosa.
O ar que entra sorrateiramente pela janela, faz com que as dobras da cortina pareçam casais balançando-se suavemente de um lado para o outro, em uma doce e harmoniosa valsa. O tapete de crochê, estendido no meio do quarto, faz-me pensar quais mãos trançaram estes fios criativamente, fazendo parecer o universo, com seus planetas e estrelas, girando ao lado um do outro, em círculos. Preciso estudar sobre astronomia para enriquecer meu vocabulário espacial, talvez começando com a palavra lunática, pois como vejo a lua daqui onde estou, dá vontade de não desgrudar os olhos dela mais.
Meu pacotinho preto cada vez se enrosca mais, percebeu que estou no meu momento criativo e que está começando fazer parte da história como personagem principal. Suas manchinhas brancas, dá a impressão que já é de idade avançada, mas é a sua linhagem que se apresenta assim, Tica Bernardes, raça Basset Arlequim. Suavemente aliso seus pelos aveludados, sentindo entre os dedos toda a maciez, como se tocasse uma colcha acetinada.
O vento que esfria meu corpo, não é silencioso, tem hélices e faz barulho como o motor de um avião. Quem o inventou deve ter se inspirado em um desses aeroplanos que voam pelo ceú, como pássaros, só que muito barulhentos. Só agora percebo o quanto de música tenho arquivadas aqui em meu mundinho particular, só esperando um gesto meu para pedir licença e invadir o espaço com suas suaves notas musicais, que na maioria das vezes, remete-me a doces e saudosas lembranças. Se fechar os olhos, posso até sentir o cheiro e o toque destas lembranças. Pernas que se enroscam, mãos que se tocam, corpos que se fundem um no outro, como se fosse uma capa protetora. O cheiro invade as narinas, perfume que deveria se chamar ”cheiro de tesão”. Uma essência única e momentânea, que só se encontra na magia de corpos que se amam sem pudor, com entrega total e nunca se repetirá, terá sempre novos cheiros.
Acho que como escritora sou uma negação, vou ter que tentar uma nova profissão!
Helena Bernardes
Goiânia, 14 de março, Dia de Proteção aos Animais - Homenagem a minha cadelinha que foi atropelada.