Prefiro a outra opção (BVIW)
É fato que nem tudo que parece ser é. A discrição nem sempre é uma questão de educação, mas de insegurança, assim como o que um escritor quis dizer, às vezes, está nas entrelinhas. Era o que pensava Marcos, um estudioso contemporâneo e observador da natureza humana. Ele costumava dizer que se deve ter cuidado com os olhos e os sorrisos que não expressam sentimentos reais. Que considera importante, para um bom relacionamento, afetivo ou profissional, aprender a escutar o silêncio, pois ele diz muito.
Uma noite qualquer, Marcos viu uma moça no balcão de um bar, bebendo um drink, sozinha. Observou-a por alguns instantes e lhe traçou um perfil, diante da cena, não comum para ele. Resolveu se aproximar, cumprimentou-a, apresentou-se e, durante algumas horas, trocou ideias sobre assuntos atuais. Na despedida, marcaram um próximo encontro. Quis o destino que Marcos se apaixonasse por Júlia e, passados alguns dias, encontraram-se no mesmo local. No início da relação, Júlia mantinha uma postura discreta, de uma moça meiga, inteligente e culta. Tinha bons argumentos para diferentes temas. E isso cativou Marcos, fazendo-o crer que havia se enganado na sua primeira impressão.
Dias depois, Marcos precisou viajar a trabalho. Mesmo insistindo várias vezes, não conseguiu contato com Júlia, pois ela ignorou seus recados. Sozinho, começou a refletir sobre a ambiguidade de cenas, que Júlia havia protagonizado, desde à noite que a conhecera. Ele começou a redefinir a imagem construída a partir de outros critérios de análises. Não era do seu perfil julgar, e sim, respeitar a individualidade de cada ser.
De volta da viagem, ainda no aeroporto, ele recebeu de Júlia a seguinte mensagem: Não me procure no bar, descobri que prefiro minha outra opção.
Iêda Chaves Freitas
14.03.2022
Tema da semana - Ambiguidade em cenas.