ANA KHRUSHCHOVA

 

Não tínhamos nenhum ruivo na família. Foi, então, que meu irmão Beto casou-se com uma moça com ascendentes russos e alemães. Dessa união, nasceu a primogênita, Ana. Era uma bebê rechonchuda, branquinha, olhos castanhos e cabelos ruivos. Muito engraçadinha. Depois vieram seus irmãos Ludmila e Don, clarinhos, mas com olhos e cabelos castanhos. Ana era diferente . À medida em que crescia essas particularidades se pronunciavam e as bochechas adquiriram sardas.

 

Meu marido, o Celso, viu nela alguma semelhança com o presidente da União Soviética, na época, Nikita Khrushchov. Como ele havia aprendido a língua russa, que falava com certa desenvoltura e sabia que as meninas russas recebiam um “a” ao nome de família, passou a chamar a sobrinha de Ana Khrushchova. A mãe da menina sentiu-se ofendida pois não conhecia essa particularidade da tradição russa e achou que ele estava debochando dela e de sua filha. Ele não queria ofender, porém fazer uma brincadeira. Uma famosa atleta do salto com vara, cujo pai tem o sobrenome de Isinbayev, chama-se Yelena Isinbayeva, patronímico, filha de Isinbayev. Cristina, a cunhada, aceitou a explicação e não mais se importou com o apelido, afinal tratava-se do todo-poderoso da ex União Soviética. Ana, ao crescer, também levou na brincadeira o apelido em família, mas ficou muito chateada quando os moleques de sua turma na escola passaram a zoar dela, chamando-a de foguinho, brasinha e outras besteiras.

 

Assim, que terminou o segundo grau, pintou o cabelo de louro e nunca mais sofreu bullying. Uma pena, porquê o cabelo ruivo era muito mais bonito, farto e sedoso.

 

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 20/02/2023
Reeditado em 07/03/2023
Código do texto: T7723938
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.