UM PEDIDO ESTRANHO

Eu tinha treze anos quando um fogo ardente tomou conta de meu corpo e passei a pousar meus olhos nas garotas do bairro de um modo diferente de anos antes, era um vislumbre bem mais ousado, faminto e pidão mesmo, aquele olhar penetrante capaz de fazer um raio x de corpo inteiro delas e levá-las a corar de vergonha e esconder-se no recato tão peculiar à época.

Eram os anos sessenta, quem viveu nessa época sabe a dificuldade dos jovens no tocante a usufruir dos carinhos femininos, coisa que a juventude do século vinte e um nem imagina possa ter sido dessa maneira difícil. Afogar o ganso nem pensar! Ou, então, já que ninguém sabia, apenas e simplesmente pensar. Porque a prática era zero absoluto. Ou, em primeiro e último caso, se partia para o cinco contra um ou...enveredava pelo cinco contra um mesmo, pois realmente não havia outra saída.

Mas tinha Socorrinha, ah sim! Linda, belas coxas, alegre como ninguém, dona de si e sem dar a mínima para a mentalidade dos outros, enfim, uma garota muito além do futuro. Só que ela tinha quinze anos e gostava de rapazes mais velhos, com os quais era muito dada, para minha grande frustração tendo em conta que os da minha faixa etária não ganhavam as benesses de suas doces curvas.

Eu sonhava com Socorrinha dia e noite, inclusive durante as épicas batalhas dos cinco contra um. Ansiava por ela como as estrelas precisam do céu e as plantes do sol, e devaneava imaginando como seria se ela me desse bola! Mas ela não dava. Ela era a única garota da rua que usava short, nenhuma outra se atrevia a tanto. Ah Corrinha (eu a chamava assim em meus propósitos), sonho meu! Isso me enlouquecia de desejo. E essa vontade um dia aflorou de tal maneira, a testosterona à flor da pele, que sem pensar duas vezes quando a vi passando na calçada de minha casa, pedi a perereca dela. Socorrinha olhou-me com risinhos de deboche e disse com ironia que o quintal da casa dela estava cheio de pererecas e que iria trazer uma para mim.😢 Embora chorando de decepção, fui obrigado a participar da velha e única saída para garotos afoitos como eu, a que me restava, que era a batalha dos cinco contra um.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 18/02/2023
Reeditado em 22/02/2023
Código do texto: T7722531
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