" BOTEQUIM DA MOOCA "

“BOTEQUIM DA MOOCA”

A manhã já avançava 11 horas daquele sábado, quando meu amigo se deu conta que teria de se encontrar com seus velhos conhecidos naquele botequim do bairro da Mooca.

Ainda sonolento foi para o chuveiro.

Sob a ducha d’água conjeturava consigo da “bisteca” que tinha tomado no dia anterior e se prometia beber somente nos finais de semana e nos feriados também.

Num ou noutro aniversário idem, melhor ibdem.

E naquelas reuniões do meio da tarde no escritório de seus amigos não poderia faltar. Afinal, saborear aquele scotch e desfrutar de um papo irmão já era tradição.

-Porque deixar? – perguntava-se

-Ressaca! Soprava aquela vozinha interior.

Enquanto se vestia um bolerão antigo replicava “El dia en que me quieras” - quero é achar os meus sapatos, porra!

Onde é que os enfiei?

Ah! Aqui estão.

Como estão gelados!

Pudera! Deixaste-os na geladeira.

Ainda confuso, ponderou se seria aconselhável antes do encontro lavar o rosto no bebedouro para cavalos da Rua do Oratório, pois rezava a simpatia popular que quem isto fizesse espantaria definitivamente seu sono.

Agora, já em seu carro, percorrendo sempre o mesmo caminho encontrou a rua do Carmo com um trânsito bastante moroso e pôs-se a pensar que a Mooca era ainda um bairro provinciano e macarrônico. As pessoas tinham um modo de falar muito peculiar, principalmente os oriundi. Mas era muito gostoso se entregar naquelas conversas sem fim. Sorrindo, lembrou-se de um verso do Guido Piva que dizia:

“ Io quero lembrá da Móca, du Clube Real Madri, du tempo di giogá bola... cum o Airto e cu’ o Giquirí...”

“ Io quero lembrá da Móca,

du tempo de cachuleta,

du tempo di si pedi um teco,

do lanche de um amico;

tempo di si andá na rua

de nótte, sem tê perico “

“ Come me lembro!

Do tempo di rodá pione

Do tempo di giugá bulinha

Tempo de istilingue

Tempo de marelinha”

Então, uma lágrima correu de seus olhos e todo um passado de repente estava à sua frente. As conversas nos portões das casas, a familiaridade entre os moradores, o “footing” na rua João Antonio de Oliveira, a corrida dos carrinhos de rolimãs na Mogi Mirim e o cheiro do molho de macarrão nas manhãs de domingo.

Contudo, ficava encafifado com os nomes das ruas JAVARI – TAQUARI – GUAIMBÉ - CASSANDOCA – ARARIBÓIA - TABAJARAS e tantas outras.

De onde será que vieram?

E, os cinemas ALIANÇA, IMPERIAL, ROMA, PATRIARCA, SÃO JOÃO... todos sepultados e seus personagens devem estar atuando lá no além.

Nesse instante, alguém gritou:

- Como é velho, vai andar !

- Velho ! ... é o Gabo curtindo o sono da garota encomendada pela cafetina.

Finalmente a Tabatinguera surge e o botequim está mais algumas quadras adiante onde será palco mais uma vez de confidências, causos e disfarçados enganos que por algumas horas ocuparão o recordatório de seus insignes freqüentadores.

Bepo é o primeiro a cumprimentar. Gaetano e Luigi abraçam e beijam o Francesco que acabara de chegar. Reunidos em torno daquela mesma e exclusiva mesa encomendam suas bebidas e a ladainha começa.

O Gaetano inconformado acha que o sindicalista nanico eleito deveria ser arquivado para sempre. O merda nunca sabe de nada. E, aquela mulher dele vive pendurada no seu saco. Estamos bem... bem fudidos ! Isso, sim.

Contrapondo, Bepo se revolta com a campanha do palestra, considerando que suas dores se devem em grande parte ao tempo de sofá em que fica assistindo os “polpetones” jogarem. Farabuttos!

- Hei! Ô zio me dê mais uma dose caprichada - pediu o Luigi.

- E os seus óculos Luigi ! Perguntou o Francesco.

- Pois é, vocês não queiram saber o que me aconteceu na sexta-feira passada. Estava eu bastante mamado na cantina do Pietro, quando uma negona de boa armadura sentada numa mesa ao lado pediu que lhe acendesse o cigarro. Não preciso contar o resto, preciso?

- Bem, parlando aqüi, parlando ali acabamos indo a um motel. Ela toda fogosa dizia-me da noite que teríamos. Eu, nem tanto, estava briaco. Encafuamos dentro do quarto e com mais algumas doses perdi o senso e mandei ver.

- MADONNA! Ela era tão larga... mas tão larga que perdi meus óculos naquela montanha de carne escurecida. Por San Genaro, só me dei conta quando a Carmela me cobrou no dia seguinte no escritório.

Atônitos os companheiros riram da desdita do amigo e uníssonos repetiram que ...c.. de bêbado não tem dono.

Despediram-se, certos de que a Mooca é antes de tudo um estado de espírito.

PAULO COSTA

paulo costa
Enviado por paulo costa em 10/12/2007
Código do texto: T771880
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