Revelação

Ela estava se sentindo sem chão.

Andava sem rumo pelas ruas como se estivesse enlouquecida. Às vezes falava sozinha e gesticulava.

Estava se sentindo sem forças.

Não entendia o vazio de sua vida.

Quantas vezes sonhou com uma vida perfeita, com um amor perfeito.

Criava personagens em suas fantasias. E seus personagens eram amorosos e não feriam as pessoas que amavam ou que conviviam.

Quantas vezes sonhou com uma vida de glamour e sucesso.

Ser reconhecida, ser amada, ser respeitada.

Mas quando despencava de suas fantasias e voltava à realidade a solidão e a decepção doíam tanto que tinha vontade de morrer.

Tinha um excelente emprego, mas sentia-se estagnada e não conseguia uma carreira promissora, achava que não era capaz de cargos mais altos e ficava ali se submetendo a chefes abusivos e engolindo sapos. Era inteligente e competente, mas sempre tinha alguém pra lhe botar pra baixo.

Estava em seu segundo casamento que ia se esfacelando como o primeiro. Não se sentiu respeitada pelo primeiro marido e não se sentia respeitada pelo segundo. Cada vez que sofria um abuso emocional se debulhava em lágrimas, mas não tomava uma atitude.

Naquele dia após uma briga com o marido saiu sem rumo e sem saber o que fazer ou onde ir.

Queria chorar todas as lágrimas que ficaram represadas e sem se importar com ninguém as lágrimas rolavam por sua face como uma cachoeira, mas elas não eram capazes de amainar sua dor.

Queria ser capaz de colocar pra fora todas suas frustrações, suas mágoas, os sapos que engoliu, a tristeza, a saudade, a dor.

Queria falar de seus sonhos, de seus desejos escondidos.

Mas estava travada, amarrada em si mesma.

Queria ser compreendida.

Sentia-se profundamente triste e infeliz.

Nunca falou com ninguém de seus sentimentos mais profundos.

E naquele instante ela queira morrer pra não ter mais que pensar, pra não ter que sentir mais nada, nem dor, nem mágoa, nem tristeza.

Sentia seu coração sangrando, sua alma sufocada, seu espírito apagado.

Ela sentia uma ansiedade imensa, uma vontade de exorcizar seus fantasmas, uma vontade de saber o que fazer de sua vida.

Pensava como procurar suas respostas.

Depois de anos de terapia avançou pouco e achava que mudar era muito complicado e difícil, não encontrava a trilha.

Perguntava pra si mesma o que a bloqueava, o que a amarrava.

Sabia que era inteligente e capaz de muitas coisas, mas nunca foi capaz de viver e aproveitar seus talentos e capacidades.

Estava presa como se não fosse capaz de nada, como se não valesse nada.

Ela entrou no parque e sentou-se em um lugar afastado.

Ainda chorando disse em voz alta:

-Oh, meu Deus, piedade! Preciso de socorro. Onde posso me encontrar? Preciso de uma palavra que me tire deste poço sem fundo.

Fechou os olhos e de repente ouviu uma voz:

“Seja mais clara, mais larga

Silencia sua mente

Pergunta pra sua alma

Pergunta pra seu coração

Cala e ouve.”

Ela se assustou e olhou ao redor. Não tinha ninguém.

Quem teria falado aquelas palavras? O Espírito de Deus? Ou sua mente?

E ela meditou naquelas palavras.

Nunca fora capaz de silenciar sua mente nem nas sessões de terapia.

Mesmo assim ela fechou os olhos e começou a se acalmar.

Nunca havia ouvido uma voz tão nítida, firme e sem saber de onde vinha.

Mas sentia que aquelas palavras era a resposta.

Foi se acalmando. Aquele lugar tranquilo e bonito ajudava na sua meditação.

Algum tempo depois voltou a ouvir a voz que bem poderia ser de sua alma e de seu coração:

“Para se chegar ao alto da escada é preciso galgar o primeiro degrau e mais um e mais um.

Para se chegar ao topo da montanha é preciso dar o primeiro passo e subir devagar para que não falte energia.

Para se chegar à luz é preciso alcançar a margem com calma e determinação.

Não importa que muitas pessoas não gostem de você. Antes de tudo é preciso amar-se.

É aí que tudo principia.

A verdade, a cura está em você.

Busque. Ninguém pode buscar por você porque ninguém tem acesso ao que você é.

Acredite em sua força. Ela é só sua e só você pode usá-la a seu favor.

Você não vai mudar da noite pro dia. Para se construir é preciso colocar peça por peça, sem pressa.

Pergunte dia a dia e lhe será dada a resposta.

Valorize-se ou ninguém vai lhe valorizar.

Ame-se ou ninguém vai lhe amar.

Agora vá e comece sua caminhada, passo a passo, degrau por degrau.

Só você pode trilhar seu caminho.”

E ela voltou como se estivesse saindo de um transe.

Algumas pessoas estavam à sua volta perguntando se estava se sentindo mal.

E ela respondeu:

-Não. Nunca estive tão bem em minha vida.

Levantou e saiu caminhando pensando naquela revelação.

Sentia-se fortalecida. Sabia agora que podia mudar sua vida, seu casamento, seu trabalho.

Começou tendo uma conversa franca com seu marido, que tanto amava, pra tentar salvar seu casamento.

Na segunda-feira foi trabalhar determinada a se fazer respeitar por atitudes positivas.

Voltou, decidida, pra suas aulas de dança e de desenho, que tanto amava e que sempre começava e depois abandonava.

Começou a cuidar melhor de seu corpo, de sua alimentação de sua mente e de suas emoções.

Sempre que sentia que precisava, perguntava ao seu coração, à sua alma qual seria o próximo passo.

Aprendeu que atitude muda tudo.

Aos poucos, sem pressa foi se transformando em uma nova mulher.

Uma mulher forte e firme em suas decisões. Uma mulher que sabe impor com amor as suas vontades, necessidades e desejos.

Aprendeu que mudar não é difícil e nem complicado mas envolve muita vontade e determinação.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 10/02/2023
Reeditado em 10/02/2023
Código do texto: T7716414
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