PEQUENOS NEGÓCIOS, GRANDES ENCRENCAS.

 PEQUENOS NEGÓCIOS, GRANDES ENCRENCAS.

 

Essa aconteceu aqui em São Bento do Sul - SC na década de 60.

Adinoran não era flor que se cheirasse, viu o vizinho desfazendo-se de umas tralhas e vasculhando o lixo deparou-se com aquela caixa cor-de-rosa. Apanhou-a e seus olhos brilharam, em embalagens perfeitas lá estavam: oito engrenagens niqueladas de tamanhos diversos para bicicletas NSU OPEL.

Uma raridade valiosa pensou com seus botões carregando-a para casa.

- Bom dia! - Bom dia! Respondeu-lhe seu Otti da mecânica de bicicletas. -

Meu vizinho acaba de chegar da Alemanha e trouxe uma encomenda que fiz a ele, coisa rara, infelizmente de pouca serventia para mim.

Então pensei, porque não negociar com o seu Otti?

São perfeitas para aquela bicicleta antiga que ele tem exposta na vitrine da oficina.

Abriu a caixa e mostrou a mercadoria novinha em folha.

- Não valem nada: disse-lhe com franqueza o alemão, é peças antigas, inservíveis, um lixo...

Desolado Adinoran fechou a caixa saindo aborrecido do estabelecimento.

Logo a frente visualizou a lojinha do turco Alkmin. 

Entrou. -Bom dia! -Yvi günler, respondeu o turco meio desconfiado.

- Alkmin meu amigão, meu vizinho acaba de chegar da Alemanha e trouxe a encomenda que eu lhe fiz.

Abriu a caixa dizendo: são peças raras para bicicletas e sei que o seu Otti da oficina em frente está precisando, infelizmente não me dou bem com o alemão e pensei que talvez você pudesse negociar com ele, são muito valiosas. Os olhos do turco cintilaram de ganância.

Mas valem algum dinheiro? Perguntou com desdém...

- No mínimo uns Cr$ 4.500,00 (cruzeiros da década de 60), estou negociando-as em troca de mercadoria.

Com muita lábia Adinoran conseguira sem muito esforço trocar as engrenagens por algumas panelas e utensílios domésticos da lojinha do patrício. Alkmin não perdeu tempo e em poucos minutos lá estava frente ao alemão da oficina.

- Bom dia seu Otti!

- Bom dia! Olhou para o turco de soslaio.

- Meu vizinho acaba de chegar da Alemanha e trouxe uma encomenda que fiz a ele pensando no senhor, coisa rara, infelizmente de pouca serventia para mim, veja que maravilha...

Seu Otti olhou para caixa e numa gargalhada exclamou: Nem vem que não Tem, o Adinoran há pouco esteve aqui e lhe expliquei que estas peças não valem nada.

Nadica de nada scheisse (1). Alkmin, puto da vida, saiu vociferando da mecânica.

Daquele dia em diante Adinoran passava em frente à loja do turco, ligeirinho e do outro lado da calçada e por vezes ouvia-o esbravejando: ―Adinoran filho de égua, safado, devolva mercadoria para a lojinha". ****** (1) scheisse – merda em alemão

* fato verídico, preservados os verdadeiros nomes das pessoas

 

Por: Maurélio Machado