TRAGÉDIA
Carlos raparigou por muitos anos tão-logo acabou a lua de mel com sua esposa, uma mulher linda, de boa genética e oriunda de família de igual forma abastada como a dele. Parecia, se podemos dizer assim, que o casamento deles nascera da conveniência em juntar as suas fortunas e os dois nomes digamos nobres para não dispersar alhures a riqueza de ambos.
Enquanto aqui e ali Carlos pegava outras mulheres e se divertia com elas, sua esposa entrava na dança conjugal e engravidava, embora soubesse das aventuras extraconjugais do marido. Ela teve dois filhos, um lindo casal casal que alegrava o lar do casal. Mas ela, triste e aborrecida, se ressentia com o desrespeito a que era submetida por quem a ela jurara amor eterno. Ser traída quase todos os dias pelo esposo foi criando nela uma espécie de repulsa que a dominava dia após dia.
Carlos não se importava em ser um mau esposo, tinha a firme convicção de que sua mulher suportaria tudo que ele fizesse porque o amava e por causa dos filhos. Ele, no fundo no fundo, sabia que também a amava, a seu modo claro, mas não conseguia resistir aos braços e corpos de outras mulheres. Só não imaginava que seus atos repulsivos trariam as dramáticas consequências que se seguiram.
Porque um dia, depois de falar aos seus pais e irmãos as traições de que era vítima, o sofrimento e a vergonha de ser passada para trás cotidianamente como se fosse uma roupa velha ou um tapete surrado que bastava ser lavado para guardar as aparências, disse convicta que ia deixá-lo. Nenhum familiar foi contra sua decisão. E nesse mesmo dia ela abandonou o esposo Carlos.
Para ele, que se julgava inatingível, gostosão, astuto e com o direito de ser infiel sem sofrer revés, foi um grande choque. A princípio não foi nada afável quando pediu para ela voltar, apresentou desculpas, disse que não faria mais aquilo, essas coisas inúteis de quem trai e acha que continuará se dando bem com a traída a qualquer custo. No entanto sua esposa não o quis mais, afirmou sua decisão de pedir o divórcio e ficar longe dele para sempre.
A via crucis de Carlos teve início a partir de então. Percebeu tarde demais o grande tesouro que perdera e queria a todo custo recuperar. Implorou, chorou, repetiu inúmeras vezes o pedido de perdão, ajoelhou-se aos pés dela, fez de tudo. Em vão. No decorrer dos dias, soube inclusive que os irmãos de sua ex mulher tinham pedido a ela para não aparecer com namorado, pois poderia acontecer uma tragédia. Isso, sem dúvidas, o apavorou, deixando-o em frangalhos, levando-o a fazer novas súplicas, derramar muitas lágrimas, se mostrar humilde suplicando que ela voltasse. Nada adiantou, a mãe de seus filhos nunca mais voltaria para ele.
Tamanho foi o baque de ser abandonado, desprezado e zombado por aquela a quem tardiamente entendeu que amava e muito, que Carlos entrou em parafuso, desnorteou, ficou sem rumo. E de tal forma que, ciente de que jamais teria de volta a mulher de sua vida, a mãe de seus filhos, certo domingo entrou no carro, tomou a estrada em direção à praia mais próxima e lá adiante, desesperado e em alta velocidade, jogou o veículo contra a primeira árvore enorme avistada no caminho, esbagaçando o carro e a si mesmo. Morreu na hora. Não se sabe por que, três meses depois, acometida de um mal súbito, a viúva também morreu.