Glória ao Rei!

30/12/2022

Pelé faleceu ontem aos oitenta e dois anos e estou reeditando, em sua homenagem, esse texto de dois anos atrás, quando completou oitenta anos, pois ali, no Estádio do Pacaembu foi o palco no qual assisti maravilhado toda a sua magia e destreza com a bola nos pés, tentando depois imitá-lo. Era um artista perfeito. Inigualável!

Vai-se Edson, fica Pelé o eterno Mito.

Glória ao Rei!

Pelé fez oitenta anos há semanas, a lenda do futebol mundial - o Rei!

Mas agora, está em cadeira de rodas, é uma pena.

Meu ídolo, e a sua imagem, eu e muitos garotos naquela época queriam ser um Pelé.

Coincidentemente, meu filho mais novo, era bom jogador de futebol no nosso clube, foi apelidado assim, Pelé!

O vi jogar varias vezes naquele tempo da sua glória mundial, anos sessenta e setenta do século passado no estádio do Pacaembu, perto da minha casa e da escola em que estudava. Ia assistir aos jogos nos finais de semana, geralmente os clássicos aos domingos. Santos, o seu time principal por quase toda a sua carreira, versus Corinthians; ou contra o São Paulo, ou Palmeiras, principalmente.

Nos meus quatorze, quinze anos era esse o programa que fazia, com outros amigos santistas ou não, nos fins de semana. Às vezes ia sozinho, pois queria ver o genial Pelé jogar e levar a vitória do meu time, Santos. Pegava o ônibus com mais de duas horas de antecedência do horário do jogo, comprava o ingresso nas cabines no corpo lateral do estádio, sendo, por exemplo, as arquibancadas de um lado, as numeradas de outro. Geralmente ia de arquibancada, mais barata e podia-se sentar. A geral era muito ruim, ficava-se em pé.

O estádio nessa época era bem diferente do atual. Foi inaugurado nos anos quarenta e mantinha a original concha acústica atrás do gol, oposto à entrada principal, onde hoje é o "tobogã", com o placar manual sobre ele. Às vezes, quem trocava os números se esquecia de mudar após um gol, e as vaias e gozações gritando "de que estava dormindo" para o funcionário, irrompiam pelo estádio. Era hilário! Os assentos nas cadeiras numeradas eram de madeira , e nas arquibancadas, em degraus de alvenaria ou em concreto. Tudo bem rústico e simples. Nostálgico!

A visibilidade era, e é impressionante até hoje, como a sua acústica fantástica, pois se ouvia tudo do jogo, e principalmente, o som grave do toque na bola e o seu rolar no gramado. Foi construído em um vale entre dois morros que apoiam lateralmente sua estrutura, como em um anfiteatro. Eu adorava esses sons, me empolgava e estimulava a seguir o sonho de ser um Pelé também.

Os torcedores eram um caso à parte durante as partidas, com suas observações engraçadíssimas, os apelidos que davam aos jogadores, falavam alto sem qualquer constrangimento xingamentos a mãe do juiz, o técnico, os jogadores, os bandeirinhas, enfim, um espetáculo alegre de democracia e igualdade, pois ali todos eram iguais ao torcerem pelos seus times do coração. Não havia distinção de raça, credo ou política, principalmente ao marcarem um gol: a comemoração irrompia em abraços, cânticos e sorrisos de felicidade entre todos. A vida parava naqueles minutos.

Vendia-se sanduiche de salame no pão francês, o vendedor passava entre os espectadores com uma cesta de vime com eles embalados em sacos de papel branco. Eram deliciosos e eu comia um em cada tempo do jogo. Saudades desse "sanduba".

Também, amendoim torrado em saquinhos cônicos de papel como chapéu de bruxa, bem crocantes e salgados. Deliciosos!

Embaixo das escadas de acesso às arquibancadas, havia a venda de refrigerantes e cervejas, geralmente da Antártica, em garrafas de vidro. Comprava-se e bebia-se ali, sendo proibido levá-las para a plateia, obviamente. Podia-se levar a bebida somente em copos plásticos.

Fiquei por muitos anos sem ir ao Pacaembu, mesmo vindo a morar no bairro do mesmo nome depois de casado, voltando a revê-lo em um jogo entre Santos e Corinthians com meus dois filhos entre 9 e 10 anos na época. Tentava convencê-los para que se tornassem torcedores do Santos como eu, e para que meu time ganhasse esse jogo, claro.

Fomos os três nas numeradas, onde a maioria era da torcida Corintiana. O Santos perdeu por 4 a 0, com quatro gols do Viola, que depois foi jogar no Santos.

A cada gol dele os meninos pulavam e vibravam junto com os torcedores a minha volta. Eu sentado quieto e passado, com a torcida dos Gaviões da Fiel nas arquibancadas bem em frente a nós, estendendo a sua enorme bandeira e cantando em coro seus hinos com alegria contagiante. Foi um vexame inesquecível para mim, e que falta fez Pelé nesse jogo.

-Pai, sei que você quer que a gente seja santista, mas não dá pai. O Corinthians tá jogando muito e a torcida não têm pra ninguém! - disse o meu filho menor, que curiosamente tinha a alcunha de Pelé.

Viraram "Curintiano", sendo "o meu Pelé" um torcedor fanático, de brigar com a televisão quando o time jogava mal. Muito engraçado vê-lo em jogos que o seu time perdia.

Graças ao meu querido e inesquecível Pacaembu, meus filhos viraram Corintianos, não teve como, para a minha decepção de santista geração Pelé.

Vai "curintia", eles me falam quando assistimos jogos entre os nossos times!

Vai-se Edson, fica Pelé o eterno Mito.

Glória ao Rei!

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 30/12/2022
Reeditado em 30/12/2022
Código do texto: T7682851
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