Alergia a Alface

19.12.22

446

É uma menina esperta, vivaz, alegre, falante e agitada. Precoce em seus três anos de idade. Hoje as crianças o são com suas tiradas e falas imprevisíveis. Ela é minha neta “postiça”, filha da minha enteada, mas a considero como neta de fato. Cecilia é o seu nome, para nós, Ciça. E me chama de “Nono”.

Bem, o fato aconteceu meses atrás em uma ida a Porto Alegre, onde moram, para consulta médica da “Oma”, avó em alemão, e visitá-los.

Combinamos de almoçar em um restaurante perto da casa deles, um bufê muito bom e com preço acessível. Era um sábado quente, pois a capital gaúcha é tórrida, faz um calor tremendo.

Chegamos, e antes, brincamos eu e Ciça com uma estátua de madeira, em tamanho real, de uma mucama baiana que tem bem na entrada do bufê. A estátua mexe os braços, fico, então, por trás dela imitando uma voz feminina perguntando:

-Bom dia menina, tudo bem? Qual é seu nome?

-Ciça – responde de sorriso largo, franzindo seus olhinhos azuis.

-Vais comer bastante hoje para ficar forte?

-Sim! – responde, enquanto as outras crianças riem da brincadeira e com as quais também brinco.

Sentamos em uma mesa grande, éramos quatro adultos mais a Ciça – ela no cadeirão. A mãe e o pai foram fazer o prato. Eu e minha mulher ficamos com ela, entretidos com suas conversas “deliciosas”.

A mãe voltou com um prato com legumes, carne, arroz, feijão e salada de alface, e disse para a filha ao se sentar:

-Olha, aqui tem um pouquinho de tudo do que você gosta. Tem carne, brócolis, cenoura, arroz, feijão e salada de alface – disse colocando o prato de comida em frente à menina.

-Humm, que delícia, hein Ciça, que belo prato! – falei para ela.

Com o garfo desajeitadamente em uma das mãos e com a ajuda da outra pegou um pedaço de carne e começou a mastigá-lo. Foi separando em um canto do seu prato, a alface dos demais alimentos.

A mãe vendo o que a menina fazia, perguntou:

-Você não quer a alface que tanto gosta, como os dinossauros, que são grandes e fortes por que a comem?

Ciça manteve a concentração no que fazia e disse suspirando:

-Tenho alergia à alface.

Entreolhamo-nos atônitos pela resposta, pois ao invés de dizer que não gosta ou que não queria comê-la, veio com essa fala esperta, já que sua mãe disse que esse alimento é importante.

Não me contive e comecei a rir. Ela, mantendo-se séria, disse-me franzindo o cenho:

-Nono, é verdade! Me dá bolinhas aqui e coçam. Olha! - disse-me ela mostrando seu bracinho liso com algumas sardas.

Muito esperta mesmo essa menina!

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 19/12/2022
Código do texto: T7675415
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.