Donos do nada
Meu Deus eu estava tão triste e queixoso da vida e me senti envergonhado.
Porque eu os vi, Senhor...naquele beco escuro e imundo, bêbados e desavergonhados, sofrendo as consequências desta injusta sociedade de consumo.
Eu os vi também nas estradas poeirentas, cabisbaixos e cambaleantes, nos campos secos, sem água, plantio...ou alimentação.
E nas frias madrugadas, Senhor eu os vi tiritando de frio e chorando de fome.
Nos barrancos sujos e escuros, nos seus improvisados lares de lona
preta eu os vi marchando rumo ao campo;
Eu os amaldiçoei quando nas pequenas contravenções eles procuravam um meio de apanharem as migalhas das famílias privilegiadas.
Os vi praguejarem nas ruas, nos botecos, tristonhos, barbudos..aos farrapos buscando abrigo em cemitérios sombrios a fazer companhia para as daninhas trepadeiras sob mutiladas cruzes.
E nos lixões, remexendo, chafurdando na imundície, e, sorrindo doentiamente ao encontrarem frutas pútridas e migalhas de pão.
Vi brigas terríveis entre eles por causas vãs, também vi entre eles cegos, mutilados física e moralmente em seus andrajos a estenderem mãos trêmulas à cata de centavos ou restos de alimentos.
A maioria rechaçando-os irônica e sarcasticamente;
Vi seus olhos sem expressão, acompanhados de suas mulheres magras, descalças e de seus moleques de olhos esbugalhados, de ventres proeminentes...vermes, desnutridos, de cor amarelada, doentia...
Eu os vi nos portões de imponentes casarios, e os vi de rostinhos colados nas vitrines dos restaurantes, a se regalarem mentalmente com o frango assadinho e cheiroso ali exposto.
Imundos, sem escola, desdentados, sem educação, sem esperanças futuras.
Muito tempo após eu os vi nas ruas, nos morros, na escola marginal, da droga, da prostituição, crimes e contravenções.
O desprezo e o orgulho desta maldita sociedade nega-se a enxergar o que vi e ouvi em tão pouco tempo. E alguns poucos como eu, pouco puderam fazer frente à situação calamitosa.
Senhor, iluminai nossos caminhos, que nossas comunidades conheçam a misericórdia e a solidariedade.
Guia-nos para o bem Senhor para fazermos parte de uma sociedade mais justa.
Mas sobretudo Senhor Ilumine a consciência de nossos governantes, dos abastados, das autoridades, dos dirigentes e suas igrejas, para que deixem de lado as hipocrisias e ganâncias pessoais promovendo uma melhor distribuição de renda neste Brasil, gerando empregos, promovendo a paz e dando assistência social aos necessitados.
UTOPIA?