MAIS VALE CAIR EM GRAÇA...

Seu Alberico sempre foi amigo de ajudar o próximo, contribuindo com dinheiro e géneros sempre que algum vizinho fizesse saber das suas necessidades. Então no Natal perdia a cabeça, gastava o que tinha e o que não tinha para comprar prendas aos pequenos de famílias necessitadas, que só assim poderiam receber um brinquedo que lhes alegrasse as festividades, bem como comida para compor um pouco a mesa na ceia da consoada.

Mas como no melhor pano cai a nódoa, Alberico que era aposentado, tinha uma fraqueza… apaixonara-se por uma vizinha muito mais nova que ele, a Luíza, uma moça linda e bem ciente dos seus atributos… Era muito assediada pelos homens que por ali moravam…

Alberico sempre fora educado e nunca sequer chegara à fala com Luíza, apenas ficava a vê-la sair de casa e passar junto da sua janela de primeiro andar, todos os dias à mesma hora, na hora de pegar ao trabalho na loja onde estava empregada como balconista.

Um dia, ele teve a infeliz ideia de ir fazer compras à tal loja e tendo sido atendido pela sua paixão, derreteu-se em sorrisos e consta que até um inocente piropo deitou.

Entretanto não se sabe como, se foi Luiza que confidenciou às vizinhas ou alguém ouviu esse mexerico, o acontecido chegou aos ouvidos de Paulão, um suposto D. Juan que se arvorara, sem procuração, para namorado da moça, qual se encheu de brios e fez uma espera a seu Alberico, dando-lhe tal tareia que o velhote foi parar ao hospital, cheio de lesões.

Entretanto, Luíza defendia-se: - ora não querem lá ver o velho, para que é que eu o queria? É preciso ter lata! Eu não tenho dono, nem Paulinho nem Paulão! Mas mal por mal era melhor um novo que um velho, ainda por cima pobre!

O assunto virou assunto do bairro durante umas semanas até que se extinguiu por si.

Quanto a seu Alberico, quando saiu do hospital foi ajudado por um amigo, dos poucos que não o censuraram e sempre acharam que havia muito exagero na história, que o acompanhou até ao autocarro-expresso que Alberico apanhou até à terra natal, onde tinha uma pequena casa com terreno de cultivo e ali ficou a viver permanentemente, sem saudades da capital.

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 10/12/2022
Reeditado em 12/12/2022
Código do texto: T7668884
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