Traição - BVIW
Tema: O convite
Paloma estava penteando os cabelos compridos, pretos e lisos, sentada à penteadeira. Depois pegou o batom e passou nos lábios carnudos. Ajeitou a blusa e a saia, calçou os tamancos de salto alto e saiu ao alpendre da casa. Deu uma olhada na rua escura e viu o Monza do Tarcísio estacionado do outro lado da rua. Desceu as escadas devagar, e fechou o portão atrás de si. Entrou no carro de Tarcísio, que saiu em disparada, roncando os motores. Na década de 80, a cidade de Céu Azul ainda era pequena. Todos sabiam da vida uns dos outros. Entretanto, Paloma era muito dissimulada e ninguém a vira entrar no Monza, senão seria muito estranho, uma vez que o carro do noivo era um opala.
Tarcísio dirigiu até a ponte de pedra e estacionou o carro debaixo do pé de pequi. Depois disso, nada se podia ver o que se passava dentro do carro, porque os vidros logo ficaram embaçados.
No dia seguinte, Tarcísio levantou-se tarde, pois não estava de plantão no hospital e a noitada tinha sido boa. Foi até a janela da frente para abri-la, quando viu um grande envelope que fora posto debaixo da porta. Logo adivinhou que era um convite de casamento. Tinha o mesmo perfume de Paloma. Ele aspirou profundamente e já sentia toda a excitação, lembrando-se da véspera, enquanto sentava no sofá. Abriu o envelope, enquanto seus olhos negavam ler que Paloma Zambôa e Marcondes Semper se casariam no próximo dia 25 do mês seguinte. Isso foi uma desagradável surpresa para ele, que pensava em continuar o romance com Paloma. Sendo ele um forasteiro, não sabia quase nada da vida de Paloma. Amassou com raiva o convite, como se fosse o rival sortudo.