MEU PÉ DE JACA

Do lado esquerdo da casa, ficavam dois pés de jaca. Zezinho mais eu, disputávamos qual jaqueira dava mais frutos.

— Zezinho, a minha é mais frondosa

— Pode até ser, mas não dá mais jaca que a minha.

— A minha é mais doce

Ao certo não sabíamos qual das duas davam mais frutos, qual dava o fruto mais adocicado. Eram da mesma espécie, ambas produziam uma infinidade de frutos, quando amanheciam no chão, não sabíamos de qual pé havia caído, 

— Olha, Maurício aquela grandona no chão, caiu da minha.

— Tá no chão, é de quem chegar primeiro.

Saí da varanda em disparada, deixando Zezinho para trás.

— Não valeu, eu tava sentado.

— Calma zezinho, ninguém come jaca grande sozinho.

O que gostávamos mesmo era de criar o tempo todo uma teima, tenho impressão que isso era de fato o que nos unia. Isso tudo me fazia ter vontade de retornar aquele lugar de costumes bucólicos.

Por conta disso eu vivia sob pressão de minha mãe, "se não for bem nas matérias, não tem férias no sítio".

Tinha dias que nada tínhamos para fazer, e então passavamos o tempo todo ao redor da casa inventado marmota.

—Zezinho, vamos brincar de laçar

— Tá bom mas eu começo.

Fizemos o marco no chão, escolhemos um pau de cerca mais alto, e fizemos umas três séries alternadas, até que...

— Ei, maurícilo em mim não vale.

Sai correndo até Zezinho correr atrás de mim querendo descontar a tentativa do laço. Até que o laço de Zezinho alcansou meu meio, fui puxado por zezinho, cai no chão, ele tentou me ajudar, mas eu bravo, recusei, ficamos sem se falar por pelo menos umas 3 horas até voltar tudo ao normal.

Assim foram muitos fins de tarde.

Mas Certo dia, fui tomado por uma tristeza sem fim, dessa vez zezinho não estava, tinha ido pescar com meu tio Manduca no lago do canaçari. Os avós paternos de Zezinho moravam lá. Na casa ficaram eu, minha tia Madalena e minha prima Jemima. TInha chovido o dia todo naquele sábado, a presença da vizinhaça estava escassa,  até os fominhas não puseram os pés no campo para o futebol da tarde, por volta das 17 horas fui a janela da sala e de imediato fui tomado por uma tristeza latente, desci o batente da varanda, dei uma volta ao redor da casa, me dirigi ate minha jaqueira, sentei em uma de suas raízes esposta, ela me foi por testemunha de minha tristeza, lembrei da minha vó falecida. Quando ela faleceu, eu tinha sete anos, lembro muito pouco dela, sentia saudade dos anos que não tive com ela, do rosto que aos poucos fugia de mim, da memória remota dos afagos, senti a falta do meu pai que raramente o vi. Senti falta de Zezinho meu companheiro de férias que fazia menos de 24 horas que tinha saído e só ia voltar no dia seguinte a tarde, senti falta da minha mãe. Logo eu que almejava o ano todo para ficar uns dias longe dos olhos exigentes dela. Senti falta até mesmo de um irmão que minha mãe se recusava a me dar. Depois daquela tarde, não me lembro se tive outra tarde tão fria e triste que passei longe de minha mãe.

Levantei da raiz firme, virei-me para a árvore, medi o diâmetro com os braços, faltou foi muito para abraça-la toda. Ela era muito mais grossa que a de Zezinho. O abraço involuntário na árvore revelou em mim um sofrimento obscuro, os olhos marejados de saudade, puseram‐se a jorrar.

o vento frio que soprava, bem o pudi saber de onde vinha, já o pranto não o soube, e tão pouco saberei. Com o rosto virado, apoiei o meu desepero no tronco aspero que me pareceu macio, tentei segurar o choro, temia ser surpreendido por alguém, tarde demais, chorei muito naquele fim de tarde, eu não sabia porque chorava tanto. Quanto mais o tempo enegrecia, mais eu sentia a noitinha se fechando dentro de mim.

Voltou a cair uma chuva fina, que inudava lentantemnte meu coração. minha tia apareceu na janela e antes de fecha-la..

—  O que ta fazendo ai Maurício

— Nada tia, vim só pegar meu carrinho de boi.

Entra, meu filho pra não pegar uma gripe.

— Tia, é amanhã que Zezinho vem?

— É sim, meu filho, entra e troca logo essa roupa, daqui a pouco vamos jantar. Hoje é só nós.

— Quero jantar, não, tia.

Entrei troquei de roupa.

Deitei na rede e arcordei no dia seguinte.

Ps. Graças a chuva em mim, minha tia não notou nem uma gota de sofrimento.

Joanilson Mendes
Enviado por Joanilson Mendes em 27/11/2022
Reeditado em 28/11/2022
Código do texto: T7659282
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