A Mensagem

Ao abrir meu e-mail me surpreendi com uma mensagem que jamais imaginei receber.

Era dele.

Depois de tantos anos, tanta vida, tanto viver, tanto aprender, tantas águas rolarem…

Ali estava uma mensagem dele.

Por tanto tempo esperei uma palavra, uma ligação, um sinal de vida.

Agora tão fora de hora ali estavam as palavras que tanto quis ouvir, mas que hoje soam estranhas, sem sentido, sem nexo.

Depois de dias e noites de solidão, de lágrimas amargas de saudade, de descaso, de silêncio eu aprendi a me amar mais e com mais apreço que a ele.

Há tanto tempo nem me lembrava que ele um dia existiu. Não sobrou nada daquela paixão ardente, daquele amor frenético.

Poderia ter apagado a mensagem sem ler. Não faria nenhuma diferença em minha vida.

Mas meu dedo nervoso e atrevido clicou na tecla e abriu a mensagem.

E ele dizia:

“Lembra que um dia eu lhe disse que quando morresse queria meu corpo doado para uma escola de medicina e quando abrissem minha cabeça só encontrariam grilos?

A verdade é que vão encontrar poucos grilos. E ocupando um grande espaço, você.

Preciso saber porque depois de tanto tempo volta e meia você está em meu pensamento.

Saudade de você, do nosso tempo. Tudo poderia ter sido diferente.

Poderíamos nos dar uma chance.”

Durante todo o tempo que estivemos juntos ele jamais disse que sentiu saudade ou que pensou em mim. Jamais falava palavras de gentileza ou de seus sentimentos.

Pensava em tudo que vivemos e de como fomos nos afastando.

Nos últimos tempos eu sentia que entre nós existiam várias barreiras. Já não existia mais aquele jeito descontraído de conviver. Sentia também que não cumpri como devia o nosso pacto. Eu deveria tê-lo definido, eu deveria tê-lo entendido. Mas como, se ele não se definia? Como, se às vezes eu não entendia o que ele dizia nos seus infindáveis enigmas?

As coisas mais importantes ele jogava de maneira dúbia e eu ficava sem saber o que ele queria dizer.

Muitas vezes só depois de algum tempo eu conseguia compreender o que ele disse. Isto tornava difícil o nosso relacionamento, mas me fascinava profundamente.

Eu vinha de relacionamentos superficiais, de fácil entendimento onde tudo era dito claramente, sem metáforas.

Ele demonstrava uma maturidade que me encantava. Não falava de seus sentimentos, não fazia galanteios ou elogios, mas demonstrava sutilmente o que sentia por mim.

Evitava falar de si, mas se traía nas atitudes. Eu observava atentamente e conseguia captar aspectos de sua personalidade.

Vivia muitos conflitos e culpava o mundo por isso.

Tinha uma inteligência brilhante e era culto e estudioso.

Tinha o dom de convencer, de fazer acreditar que o outro tinha culpa pelo que ele fez.

Se sentia magoado com mentiras, mas muitas vezes deixava de dizer a verdade.

Mas eu estava completamente apaixonada e não enxergava seus defeitos.

Quando ele não estava por perto as horas se arrastavam, quando estávamos juntos o tempo parava para assistir nosso amor.

Não era um homem bonito, mas possuía charme e carisma de sobra.

Gostávamos do mesmo tipo de música. Tínhamos o mesmo pensamento sobre política, sobre o mundo, sobre o social. Curtíamos os mesmos assuntos e conversávamos por horas. Nosso gosto literário era igual e conversávamos sobre cada livro que lemos. Tudo parecia perfeito demais.

Nosso toque de pele arrepiava e as carícias eram perfeitas e nos colocavam em sintonia total e completa.

Não precisávamos de palavras de amor e nem de declarações. Nossos corpos falavam por nós. Nossa vontade de estar juntos dizia tudo.

Mas o tempo foi passando e o seu espírito livre e cheio de inconstâncias emocionais sentiu necessidade de voar, de se libertar de compromissos.

As barreiras foram surgindo, a falta de vontade de ficar foi imperando.

Ele começou a mudar. O meu amor ainda era o mesmo, mas no fundo, sabia que o fim se aproximava

Dizia que devíamos nos separar, que ele não era bom o suficiente pra mim, mas não me deixava e eu não tinha coragem de dar um basta naquele relacionamento.

Por fim compreendemos que todas as nossas afinidades e todo o prazer que sentíamos em estar juntos não seriam suficientes para manter nosso relacionamento…

E um dia ele voou para longe…

Foi assim…

Leopoldo

Limite

Lágrima

Lamentável

Lógico

Psicológico

Freud

Trauma

Revolta

Complexo

Desprezo

Grilos

Fim.

Pensando em tudo que se passou, respondi:

“O que foi não tem retorno e onde o coração se partiu não há como apagar a cicatriz.

É muito tarde…

Seja feliz.”

(Obra de ficção, fantasia.)

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 27/11/2022
Reeditado em 27/11/2022
Código do texto: T7658996
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