Dèjá-vu

- Será que tu poderias me alcançar as compras?

- Tome.

- Obrigado.

Pegou as compras do supermercado que a esposa o alcançara, guarda no armário bordô que lhe custou uma nota. Quando olha para aquele armário ele sempre lembra da expressão de safada que sua mulher faz assim como deseja algo de muito valor. Ela levanta o lábio superior e passa a língua bem de leve no canto esquerdo da boca. Isso é golpe baixo para ele. Se rende, e acaba realizando os pedidos da esposa. Lembra-se disso a todo o momento. “Já faz três meses que não fazemos sexo, ela só pode está me traindo” pensa. Olha para o relógio, marca duas e vinte e um da tarde. Agora olha através da janela de vidro fumê, que foi mais um dos pedidos de sua mulher, e vê um homem alto com um chapéu e um charuto. O homem passa caminhando bem devagar. Achou aquele homem suspeito, como se já tivesse visto o mesmo com o tal chapéu e charuto. Estranho. Resolve se deitar e descansar um pouco, só para repor as energias. Quando suas pálpebras fecham, ele começa a ter um sonho estranho.

Acorda. Olha a hora, duas e vinte e um da tarde. Não pode ser. Só o trajeto da janela até a poltrona demoraria um minuto, esse relógio deve estar com defeito. (O relógio não foi um dos pedidos da esposa). Ele levanta para conferir a hora em outro medidor quando vê através da mesma janela, novamente, o tal homem com chapéu e charuto. Virou-se para o relógio, os números confirmavam: Duas e vinte e um. Era como se ele tivesse parado o contínuo espaço temporal. O homem passava lentamente através do vidro fumê. Ele Fica nervoso. Não sabia o que estava acontecendo até ouvir os gritos da mulher:

- Querido, atende o telefone!

Ele agora acorda consciente de quê sonhou que teve um sonho. Meio atônito atende o telefone:

- Alô.

Cai a ligação.

Olhou para o relógio: Duas e vinte e cinco. Era muita informação para o seu cérebro em pouco tempo. Em quatro minutos ele sonhara que teve um sonho, ouviu os gritos da esposa, e atendeu um telefonema que caiu. Mas o que isso? “Devo estar ficando louco” pensa. Resolve subir até o andar superior da casa para ver se Clara, sua esposa, já saíra do banho. Sobe os últimos degraus, não ouve barulho de água, abre a porta do banheiro: Nada. O Box seco. Olha em volta, a casa estava vazia. Entra em pânico, chama pela sua esposa:

- Clara?

Grita:

- Clara! Clara! Onde tu estás?

Seus gritos se espalham nos corredores, um eco estridente. Em ojeriza súbita, desce os degraus correndo, tropeça, bate a cabeça no chão e desmaia por pouco tempo.

Três meses antes:

Clara chega em casa com as compras do supermercado, acompanhada de Antônio. Ele olha para o chão e vê uma marca de sangue:

- Querida, tem sangue ali.

- Sangue?

- Sim, ali perto da escada.

- Ué, o que pode ter sido? (Agacha-se e passa o dedo no local do sangue) - Mas faz tempo, Antônio, já até secou.

- Deixe isso que depois eu limpo.

- Tudo Bem.

- Será que tu poderias me alcançar as compras?

- Tome.

- Obrigado.

Pegou as compras do supermercado que a esposa o alcançara, guarda no armário bordô que lhe custou uma nota. Quando olha para aquele armário ele sempre lembra da expressão de safada que sua mulher faz assim como deseja algo de muito valor. Ela levanta o lábio superior e passa a língua bem de leve no canto esquerdo da boca. Isso é golpe baixo para ele. Se rende, e acaba realizando os pedidos da esposa. Lembra-se disso a todo momento. “Já faz três meses que não fazemos sexo, ela só pode está me traindo” pensa. Olha para o relógio, marca duas e vinte e um da tarde. Agora olha através da janela de vidro fumê, que foi mais um dos pedidos de sua mulher, e vê um homem alto com um chapéu e um charuto. O homem passa caminhando bem devagar. Achou aquele homem suspeito, como se já tivesse visto o mesmo com o tal chapéu e charuto. Estranho. Resolve se deitar e descansar um pouco, só para repor as energias.