Osória

Lá estava ela andando a caminho de casa. Agora, empregada, se sentia importante. Com gosto, ajudava os pais mensalmente. Cabelos, unhas, roupas, investia pesado em sua autoestima. Independente e dona de si, nunca se preocupou com o pensamento e o julgamento alheio por conta de seu traje. Alegavam, até mesmo as mulheres, que Osória andava daquela forma para chamar atenção dos homens, principalmente dos casados, a fim de destruir os casamentos. Osória, porém, era leal ao amor de sua vida, Inocêncio, que sabia que podia confiar na mulher.

Em uma noite silenciosa e deserta, estava Osória seguindo novamente para sua casa. Não via a hora de tomar um banho, um ótimo café e sair com o amado mais tarde. Eis que do nada surgiu um homem de bicicleta que começou a cantá-la e importuná-la com assobios machistas. De início ela procurou não se importar., pois acreditara ser mais um homem safado, que logo pegaria seu rumo e a deixaria em paz. Que nada!

O sujeito persistiu. Trocou os assobios por palavras incomodadoras. Osória começou a sentir medo. Poderia ser um maníaco. Acelerou os passos. Trocou de lado da rua onde estava e lembrou de gritar alto repetitivamente: fogo! fogo! fogo!

O homem necessitou deixá-la em paz, pois os curiosos pelos gritos saíram à rua e justo nesse momento. Ela se aproveitou disso para despistar o otário. Estava ainda assustada, mas aliviada. E se os curiosos não aparecessem? Que destino ela teria? Recebeu um copo com água doce e depois retomou a caminhada para chegar em sua casa. O namorado a atendeu logo. Tiveram uma longa conversa sobre o fato e a busca do suspeito. Em nenhum momento, ele condenou as roupas dela, já que roupa curta não é convite para homem.

Três dias depois, o suspeito foi encontrado e um boletim de ocorrência aplicado por assédio sexual. O assunto circulou por vários dias, pois o homem da bicicleta era esposo de uma das mulheres que mais condenara Osória por andar sempre produzida.