Vitoriosa
Eunice nasceu quando o sol nascia, no dia 30 de março de 1945, ano em que terminou a segunda guerra mundial. Uma ariana. Não era por acaso que sempre foi impaciente, persistente, objetiva, sociável, impulsiva, determinada, cheia de energia, entusiasmada e cheia de emoções. Mas trazia em si também o dom de sonhar e criar fantasias que acreditava que um dia seriam reais.
Não nasceu em berço de ouro e seus pais lutavam com dificuldade. Era a quarta de uma família de sete irmãos.
Desde criança as dificuldades e tristezas a faziam fugir para o mundo de fantasias onde tudo era perfeito. Lá as pessoas não magoavam seu próximo. Não faltava dinheiro e ela era perfeita. Tudo era lindo. Ela sempre tinha um choque ao voltar à realidade.
Na escola, muitas vezes sofria a discriminação por ser pobre e guardava tudo pra si, sonhando com o dia em que provaria às suas colegas que podia ser melhor que elas.
Mas esse dia nunca chegava. Tinha muitos talentos e tudo que se propunha a fazer, conseguia com certa facilidade. Aprendeu a costurar aos quinze anos e logo começou a sonhar em ser uma grande estilista. Desenhava lindos vestidos e se imaginava vestida com eles.
Desenhou seu vestido de debutante, mas seus pais não puderam lhe dar uma festa de quinze anos. Ela chorou, mas se conformou e prometeu a si mesma que um dia teria lindos vestidos e uma vida de conforto e sem dificuldades.
Aos dezessete anos, quando já estava terminando o magistério, curso quase obrigatório para as mocinhas da época, conheceu Flávio. Ele tinha vinte e dois anos, muito mais músculos que cérebro e pensava muito mais com o que tinha entre as pernas que com a cabeça. Trabalhava duro em uma indústria local. Era um belo rapaz e deixou Eunice fora de si, completamente apaixonada. Ele tinha lábia pra conseguir convencer qualquer garota a fazer o que quisesse.
Pouco tempo depois, Eunice estava grávida. Seu pai, um homem rude, conservador e protetor da família, exigiu que Flávio reparasse seu erro.
Eunice se casou com Flávio que não era nem de longe o homem que sonhara pra si, mas sabia como satisfazê-la e fazê-la feliz. E ela pensava que o importante era que o amava.
Seu primeiro filho nasceu e ela ia se adaptando à nova fase de sua vida.
Flávio era um homem trabalhador, bom, apaixonado e dedicado à família.
Ela começou a lecionar em uma escola e se virava para dar conta de tudo. Comprou sua primeira máquina de costura. Criava e costurava suas roupas, as roupas de seu filho e de seu marido. Sempre encontrava um tempo para tudo.
E quando terminava o dia e ela se via nos braços de Flávio, esquecia tudo e se sentia a mulher mais feliz, amada e desejada do mundo.
E os filhos iam chegando.
Eunice ia se desdobrando para que sua família melhorasse de vida. Como uma mulher forte e decidida sempre empurrava Flávio pra frente, já que ele era sempre acomodado.
Aos poucos conseguiam melhorar de vida. Adquiriram sua casa própria, tinham um certo conforto.
Flávio continuava no seu emprego, estagnado e sem nunca progredir.
Eunice era ambiciosa e sempre lutava para melhorar sua vida. Por ela e por sua família.
Começou a criar modelos de vestidos para as lojas de tecidos da cidade e em pouco tempo já era conhecida. Continuava a lecionar e costurava quando lhe sobrava tempo.
Cuidava de seus filhos, de sua casa e trabalhava como se o dia não tivesse só vinte e quatro horas. E ainda lhe sobrava tempo para dar atenção ao marido. Não importava que ele fosse acomodado e deixasse tudo por sua conta. Ele era um ótimo pai, trabalhador, vivia para a família e ela se sentia feliz e realizada com ele.
Quando estava grávida de seu quinto e último filho, recebeu um convite para participar de um ateliê de costura. E ela aceitou o desafio. Em pouco tempo o ateliê confeccionava praticamente todos os vestidos de festa da cidade e da região. Mais pra frente ela se aventurou em vestidos de noiva. E como sempre foi sucesso.
Numa decisão pouco convencional e sem ligar para as más línguas e pessoas invejosas, Eunice e Flávio decidiram que ele deixaria seu emprego e cuidaria da criação dos filhos, da administração da casa e a ajudaria no que pudesse.
Com o tempo ela se tornou um grande sucesso como estilista. Finalmente realizava um antigo sonho e tinha a vida que sempre sonhou.
Trocaram de casa, tinham bons carros, seus filhos estudavam em bons colégios, tinham uma boa formação e educação. Ela usava os lindos vestidos que tanto quis, era elegante e tinha bom gosto.
Mas quando o dia terminava e ela se via nos braços de Flávio era só a mulher mais feliz, amada e desejada do mundo…