A MÃO DE DEUS
Já que não tinha algo mais útil a fazer,
saí pelo portão do condomínio e fui perambular.
Era de tardezinha e os raios de sol
ainda teimavam em reluzir no horizonte
por detrás da alta copa verde das árvores.
A rua em frente ainda era de chão,
encoberta por fina areia amarelada.
Em ambas as laterais perfilavam dezenas
de pés de oitis já de meia idade.
Procurei o sombreado e desci a rua a passos lentos,
relembrando de coisas do passado que não voltam.
Mais adiante, na frente de uma tapera,
um garoto riscava o chão.
Sentado, completamente nu,
a pele já rosada pela ação do sol.
Quatro anos, não mais.
À procura de alguém para conversar,
sentei-me ao lado em uma pedra sombreada.
- Moço, você já viu Deus? É verdade que ele pode trazer tudo que a gente pede? Disse o guri.
Do fundo da tapera,
uma voz idosa chamou o pequeno.
Demorei ali mais uns poucos minutos.
Levantei-me e retornei para casa
arrasado.