LEITE CONDENSADO

Ontem devorei mais de 1/2 lata de leite condensado. Fazia anos que eu não agia com tanto déficit de civilidade, que não praticava tamanha insensatez, que não reincidia em tão abominável retrocesso.

Quando Moço, costumava mamar o Moça até esvaziar a lata. Confesso esse desatino sem remorso ou pejo - a não ser quando subo na balança pra conferir o peso.

Nas latas modernas não dá pra mamar, elas vêm com aquele sistema dos refrigerantes, onde se puxa um anel e a tampa pula fora, num soco só. Pra mamar na lata é preciso que ela seja daquelas antigas, pra abrir na raça com um abridor de latas. A gente fura de um lado, depois do outro pra não fazer vácuo, e manda adoidado goela abaixo, com sucção de um recém-nascido faminto e sem temor do que os parentes próximos e vizinhos possam pensar ou dizer.

Gostoso demais, mas se preparem, pois surge uma culpa danada quando ingerido o leite na totalidade. E uma dor de barriga terrível...

Certa vez, numa reunião de sete casais onde os participantes prometeram sigilo sacerdotal sobre o que ali fosse exposto, minha mulher mencionou esse meu recorrente hábito de mamação na lata de leite condensado. Pra lá de encabulado, ponderei com meus botões:_”Chato ela ter aberto isso, mas ainda bem que vai ficar só entre os casais do grupo”.

Ledo engano. Uma semana depois, a mulher de um diácono da igreja onde dois casais do grupo congregavam me abordou na rua, buscando a confirmação:

_”Bom dia irmão...que tal hein..! Adora dar uma mamada no leite condensado né?”. E riu gostosamente.

Quem avisa amigo é: não abram suas intimidades pra muita gente. Ou parem de mamar na lata de leite condensado!

(Marco Esmanhotto)