Uma noite atípica na casa do Adriano
O relógio apontava para meia noite e trinta e quatro, hora que Adriano acabara de chegar em casa. Cansado, passou por todas as etapas da casa -- garagem, sala, banheiro-- com o objetivo de chegar depressa à cozinha, a sede e o desânimo sufocavam sua alma. Ao ligar o interruptor, clareando rapidamente o ambiente, assustou-se demasiadamente. Estava ali, sentado com os olhos orbitando fora da realidade, antes à chegada de Adriano, no escuro, Leonardo, o Índio, velho amigo. Sem entender nada, Adriano perguntou aos sussurros, não queria acordar seus pais:
--- Léo, que diabos está fazendo aqui a essa hora?! Meus pais deixaram você entrar?! -- Perguntou espantado.
--- Seus pais não abriram para mim. Na verdade, eu mesmo abri --- respondeu vagamente como se sonhasse, tristonho com algo ainda oculto naquela atmosfera. Adriano, por outro lado, espantou-se ainda mais com tal reposta:
--- Como assim! Abriu o portão com qual chave? Não me lembro de ter entregue nenhuma a você! Está me assustando!
--- Lembra-se de quando removi a capa de seu motor do portão, agachando-me e permanecendo um tempinho bisbilhotando, dizendo-lhe que iria programar uma velocidade a ele?
--- Sim, isso foi ontem...
--- Pois bem, havia um desígnio pessoal ali. Estava cadastrando este controle --- Léo retirou de seu bolso da calça um controle branco com botões pretos e o nome de alguma marca em relevo.
--- Léo, isso que você fez é muito errado, talvez um crime! Se meus pais viessem à cozinha? Por mais que seja nosso conhecido, meu amigo de mais de uma década, não lhe cabe invadir esta casa! Além disso, estou bastante assustado com toda essa situação. Seu semblante é de melancolia, há uma palidez mórbida em seu rosto, até mesmo o ar rodopia distintamente.
--- Dri, eu achei que estivesse alguém querendo invadir minha casa, então chamei um uber e resolvi vir para a sua casa. Aqui estou. Não faz muito que cheguei, sei de seu novo emprego, que chegaria agora.
--- Léo, não acho que seja o momento para falarmos disso. Sua conduta fora extremamente negligente, doida, sem pé nem cabeça! Eu deveria estar com raiva e chateado por ter invadido minha casa desta forma, cadastrando outro controle do portão para fins criminosos; mas estou tão cansado que só quero tomar um copo da água e ir dormir. Se quiser, já que está muito tarde, pode ficar e dormir por aqui, mas amanhã falaremos sobre essa sua maluquice!
--- Tudo bem. Só quero deixar claro: não utilizei esse controle para fins criminosos, como diz. Fui domado pela travessura do medo, um mal psicológico o qual aflige tudo em mim; o medo é sarcástico, adora pregar peças! Aposto que é uma entidade risonha e solitária, perambulando pelas consciências alheias até encontrar um covarde... Maldita!
--- Tá, Léo... Tá, Léo... Já bebi minha água, agora irei dormir. Pode tirar as coisas do sofá lá no quarto e se deitar.
--- Obrigado, Dri.
Assim foi uma noite atípica na casa de Adriano. Apesar de estranha, os dois amigos conversaram por longas horas da madrugada até chegarem a uma conclusão: insônia. Ambos desataram a jogar Mario Kart até o café da manhã, esquecendo todas as suas tristezas.