Lar doce lar

A minha ansiedade para sair de casa já começava uma hora antes de acordar. Abrias os olhos devagar, repassando todas as coisas que tinha que fazer no meu dia. Depois, assentava os pés no piso do meu quarto, e ali começava o fingimento da minha vida monótona e cheia de mentiras.

Minha mulher cumpria seus rituais matinais, preparava nosso filho para escola enquanto ordenava seus documentos para o trabalho que ela odiava. Já estávamos no ponto de que nem dávamos bom dia um para o outro. Dentro de uma falsa atmosfera pacifica dentro deste mundo superficial, as coisas iam bem. As contas estavam pagas, nosso filho tinha uma boa educação e conseguíamos manter longe dele os problemas que eventualmente apareciam.

Eu não demorava a sair de casa. Com os pés na rua dava um suspiro profundo, sentia o ar em meu peito e agradecia a liberdade de ir em direção ao meu verdadeiro lar.

Lar onde eu tinha um chefe chato e injusto na maioria das vezes, colegas sabotadores que roubavam minhas ideias e ficavam com o crédito, café ruim e um banheiro sujo. Amava aquele lugar mesmo assim, porque ele era real. Ninguém mentia seus desafetos. Todos se odiavam e era isso mesmo. Ninguém fingia um bom dia, não havia troca de olhares amistosos ou debates sobre futebol, era uma desgraça de lugar, mas profundamente verdadeiro. Lar doce lar.

montezyin
Enviado por montezyin em 09/10/2022
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